Pornografia, prostituição e hipersexualização são pautas que colocam alguns grupos feministas e conservadores lado a lado. Os dois são contra. Mas o que diferencia esses discursos quando o assunto é a autonomia das mulheres sobre seus corpos e sua sexualidade?
O Estado de Minas conversou com especialistas para entender o que é moralismo e discurso conservador na luta das mulheres por direitos sexuais e reprodutivos.
Mulheres diversas
Sim, mulheres são diversas. Não à toa, o próprio feminismo, movimento que luta por igualdade social, política e econômica da mulher, se divide em correntes. Porém, para além de recortes de gênero, classe e raça, é preciso entender que há uma questão que une todas nós.
"Nós somos as fêmeas da espécie humana. Portanto, é dentro do nosso corpo que a reprodução acontece e que a vida acontece. Essa que é uma função biológica foi apropriada e transformada em uma função social, que é a maternidade. E é a partir desse momento histórico e dessa transformação que surgem os papéis sociais e o controle social do corpo e sexualidade femininos", explica Carmen Carvalho, professora e colaboradora da Declaração dos Direitos das Mulheres Brasil (WDI).
Discurso conservador X progressita
Se libertar dessas amarras sociais e conquistar autonomia dos nossos corpos no que diz respeito a direitos sexuais e reprodutivos são lutas travadas há anos por movimentos de mulheres.
O questionamento de algumas linhas do feminismo não é se a mulher tem ou não direito a fazer o que quiser com o corpo, mas como a sociedade machista usa o corpo feminino como instrumento de controle, opressão e produto de venda. Para entender melhor esse debate veja também o vídeo sobre a hipersexualização das cantoras pops:
"Há séculos as mulheres estão exatamente nesse papel de ter seu trabalho enquanto produtoras artísticas e artistas sempre reduzidos a expressão da nossa sensualidade", destaca Jéssica Miranda, socióloga e filósofa.
Daí a importância de entender o que diferencia um discurso conservador de um progressista quando o assunto é o livre acesso da mulher à sua sexualidade.
"Será que os posicionamentos feminista crítico a esse papel é que é conservador? Se o propósito do próprio conservadorismo é a conservação de um dado comportamento, de uma dada moral, de uma dada representação porque a conservação destas são fundamentais para a manutenção da estrutura dentro da sociedade", questiona a socióloga.
Hipersexualização ou moralismo?
Afinal, como distinguir moral e moralismo dentro desse debate da sexualização dos corpos femininos?
"Ao criticar a hipersexualização de mulheres, nós não estamos sendo moralistas porque na nossa moral social, que é masculina, essa representação é aceitável. Não só é aceitável como vende muito bem", comenta a filósofa.
"Será que os posicionamentos feminista crítico a esse papel é que é conservador? Se o propósito do próprio conservadorismo é a conservação de um dado comportamento, de uma dada moral, de uma dada representação porque a conservação destas são fundamentais para a manutenção da estrutura dentro da sociedade", questiona a socióloga.
Hipersexualização ou moralismo?
Há também uma grande confusão de conceitos quando o assunto é moral. "A moral se insere dentro de um contexto cultural, social, político e temporal. Ela é reflexo das leis e normas que são socialmente aceitas", explica Jéssica.
Afinal, como distinguir moral e moralismo dentro desse debate da sexualização dos corpos femininos?
"Ao criticar a hipersexualização de mulheres, nós não estamos sendo moralistas porque na nossa moral social, que é masculina, essa representação é aceitável. Não só é aceitável como vende muito bem", comenta a filósofa.
O que é relacionamento abusivo?
Os relacionamentos abusivos contra as mulheres ocorrem quando há discrepância no poder de um em relação ao outro. Eles não surgem do nada e, mesmo que as violências não se apresentem de forma clara, os abusos estão ali, presentes desde o início. É preciso esclarecer que a relação abusiva não começa com violências explícitas, como ameaças e agressões físicas.
A violência doméstica é um problema social e de saúde pública e, que quando se fala de comportamento, a raiz do problema está na socialização. Entenda o que é relacionamento abusivo e como sair dele.
Leia também: Cidade feminista: mulheres relatam violência imposta pelos espaços urbanos
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Como denunciar violência contra mulheres?
- Ligue 180 para ajudar vítimas de abusos.
- Em casos de emergência, ligue 190.
O que é violência física?
- Espancar
- Atirar objetos, sacudir e apertar os braços
- Estrangular ou sufocar
- Provocar lesões
O que é violência psicológica?
- Ameaçar
- Constranger
- Humilhar
- Manipular
- Proibir de estudar, viajar ou falar com amigos e parentes
- Vigilância constante
- Chantagear
- Ridicularizar
- Distorcer e omitir fatos para deixar a mulher em dúvida sobre sanidade (Gaslighting)
O que é violência sexual?
- Estupro
- Obrigar a mulher a fazer atos sexuais que causam desconforto
- Impedir o uso de métodos contraceptivos ou forçar a mulher a abortar
- Limitar ou anular o exercício dos direitos sexuais e reprodutivos da mulher
O que é violência patrimonial?
- Controlar o dinheiro
- Deixar de pagar pensão
- Destruir documentos pessoais
- Privar de bens, valores ou recursos econômicos
- Causar danos propositais a objetos da mulher
O que é violência moral?
- Acusar de traição
- Emitir juízos morais sobre conduta
- Fazer críticas mentirosas
- Expor a vida íntima
- Rebaixar por meio de xingamentos que incidem sobre a sua índole
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