Após dois anos de pandemia, o número de brasileiros sem ter o que comer quase dobrou no país. Atualmente, 33,1 milhões de pessoas convivem com a fome, 14 milhões a mais que no fim de 2020. É o que aponta o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, divulgado nesta quarta-feira (8/6).
O levantamento analisou dados entre novembro de 2021 e abril de 2022, a partir de entrevistas em 12.745 domicílios em áreas urbanas e rurais de 577 municípios. A Segurança Alimentar e a Insegurança Alimentar foram medidas pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia).
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Mais da metade da população do país vive com algum grau de insegurança alimentar, o equivalente a 125,2 milhões de pessoas (58,7%). De acordo com a pesquisa, 15,5% vivem com insegurança alimentar grave; 15,2% com insegurança moderada e 28%, leve. Os números indicam um aumento de 7,2% com relação a 2020.
Conforme definição da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a insegurança alimentar ocorre quando um indivíduo não tem acesso físico, econômico e social a alimentos básicos necessários. A fome representa sua forma mais grave.
“Ao olhar para a fome, é importante lembrar que cada número absoluto representa a vida de uma pessoa. E que mudanças em percentuais de insegurança alimentar — ainda que pareçam pequenas — significam milhões de pessoas convivendo cotidianamente com a fome”, descreve o Inquérito.
Retrato da fome no Brasil
Em média, considerando todas as regiões do país, 3 em cada 10 famílias relatam redução parcial ou severa no consumo de alimentos. No Norte e Nordeste, são 4 em cada 10 famílias; Centro-Oeste e Sudeste, 3 em cada 10, e Sul, 2 em cada 10.
As formas mais severas de insegurança alimentar (moderada ou grave) atingem fatias maiores da população nas regiões norte (45,2%) e nordeste (38,4%).
No campo, a insegurança alimentar está presente em mais de 60% das casas. Desses, 18,6% das famílias convivem com a fome - valor maior que a média nacional.
Nas casas em que a mulher é a pessoa de referência, a fome passou de 11,2% para 19,3%. Nos lares que têm homens como responsáveis, a fome passou de 7,0% para 11,9%
Em famílias com crianças menores de 10 anos, a fome dobrou, passando de 9,4% em 2020 para 18,1% em 2022. Na presença de três ou mais pessoas com até 18 anos de idade no grupo familiar, a fome atinge 25,7% dos lares.
Fome e a população negra
Mesmo quando os rendimentos mensais ficam acima de um salário mínimo por pessoa, a insegurança alimentar é maior nos domicílios onde a pessoa de referência se autodeclara preta ou parda, diz o estudo.
Cerca de 65% dos lares comandados por pessoas pretas e pardas convivem com restrição de alimentos. A fome, nas residências comandadas por pessoas de cor/raça preta ou parda saltou de 10,4% para 18,1%.
Retrocesso histórico
Entre 2004 e 2013, políticas públicas de erradicação da pobreza e da miséria reduziram a fome para menos da metade do índice inicial: de 9,5% para 4,2% dos lares brasileiros.
Em 2018, última estimativa nacional antes da pandemia da COVID-19, a insegurança alimentar já atingia 36,7% da população. Em comparação a 2022, o aumento chega a 60%.
Mesmo nos domicílios que recebem auxílio financeiro dos programas Bolsa Família e Auxílio Brasil, a fome é realidade para 32,7% das famílias que relatam recebimento dos benefícios e para 29,4% das que não recebem.
Por outro lado, em domicílios com pelo menos um morador aposentado pelo INSS, a fome tem indicativos menores (11,9%).
*Estagiária sob supervisão da subeditora Jociane Morais
Por outro lado, em domicílios com pelo menos um morador aposentado pelo INSS, a fome tem indicativos menores (11,9%).
*Estagiária sob supervisão da subeditora Jociane Morais