O presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Xavier, disse, na quarta-feira (8/6), que o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips não teriam comunicado a viagem para a Terra Indígena Vale do Javari, na Amazônia. No entanto, documentos obtidos pela TV Globo e pela CNN comprovam que o indigenista tinha autorização da Funai para fazer a expedição.
De acordo com o documento, a Funai autorizou a entrada de Bruno na área entre 17 e 30 de maio. Ele entrou no dia 21, sem a companhia do jornalista britânico. Na ocasião, participou de reuniões nas aldeias e estava acompanhado de um representante da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) e do presidente de uma associação de moradores da região.
À época, a Funai exigia autorização para entrar na terra indígena devido ao risco de contaminação dos indígenas com a covid-19. Agora, essa autorização prévia não é mais necessária.
Dom Phillips não chegou a entrar na Terra Indígena. O trabalho que ele estava fazendo era fora da área. Eles desapareceram no trajeto entre a comunidade de São Rafael e Atalaia do Norte, que não fica na reserva.
Leia Mais
Bolsonaro sobre PF: 'Destacado na busca incansável dos desaparecidos no AM'Bolsonaro diz nos EUA que reforçou combate ao desmatamento na AmazôniaPoderData: Rejeição a Tebet é maior que a de Lula, Bolsonaro e CiroDom e Bruno: comissões do Congresso pedem saída do presidente da FunaiRegião do desaparecimento de Dom e Bruno tem aumento de mortes violentasAtriz Malu Mader faz apelo ao governo Bolsonaro nas buscas na AmazôniaAmazônia: Desmatamento aumenta quase 13%, alerta GreenpeaceEm entrevista à Empresa Brasil de Comunicação (EBC), o presidente da Funai criticou que os dois estivessem na área sem ter comunicado aos órgãos responsáveis. "A Funai, de forma nenhuma, emitiu nenhum tipo de autorização para ingresso nessa área indígena. É muito complicado quando duas pessoas, apenas, resolvem entrar na área indígena sem nenhuma comunicação formal aos órgãos de segurança e nem mesmo à Funai", disse.
Nesta quinta, a Univaja se pronunciou e disse que Bruno tinha comunicado a entrada na Terra Indígena e que, no momento do desaparecimento, eles não estavam na área de preservação.
O grupo Indigenistas Associados (INA) também rebateu a fala do presidente da Funai e destacou que os dois não entraram na área de preservação. "Não é verdade que Bruno e Dom tenham sido descuidados com solicitação de autorização de ingresso em terra indígena. Simplesmente, porque não ingressaram em terra indígena. A expedição realizada transcorreu nas imediações, mas não no interior da Terra Indígena Vale do Javari", disse em nota.
O presidente Jair Bolsoanaro (PL) também criticou o que ele chamou de "aventura" dos dois. "Não tenho notícias do paradeiro deles. Pedimos a Deus que sejam encontrados vivos, mas sabemos que a cada dia que passa essa chance diminui. Eles entraram em uma área, não participaram a Funai. Tem um protocolo a ser seguido, e naquela região geralmente a gente anda escoltado. Foram para uma aventura. A gente lamenta pelo pior", disse em Los Angeles, onde participa da Cúpula das Américas.
Na nota da Univaja, a organização destaca que Bruno Pereira é o melhor especialista no Vale do Javari. Servidor de carreira da Funai, tem 11 anos de experiência como indigenista na região. Além disso, ele compreende pelo menos quatro línguas dos povos do Javari e foi durante cinco anos coordenador regional do Vale do Javari. A reserva indígena é a que apresenta a maior densidade de povos isolados no mundo.