Maristela Barros Mayer Ferreira, é mãe de Clarissa Jannine, de 36 anos, que tem autismo. Ela alerta que os impactos do novo rol taxativo são desastrosos, principalmente porque se perde completamente o tratamento que já foi iniciado. "Qualquer mudança de rotina para alguém com autismo já é impactante. Agora, você romper ou restringir e, quem sabe, ter até que mudar de clínica de atendimento, sair de uma clínica particular que atende pelo plano de saúde e ir para uma fila no SUS, não é fácil, é muito triste. As famílias vão perder sobremaneira."
Ela também é vice-presidente da Associação de Apoio a Deficiência Nossa Senhora das Graças (Agraça), que fica no Bairro Carlos Prates, em BH.
A instituição tema caráter assistencial, sem fins lucrativos, dirigida por pais e educadores de pessoas com deficiência intelectual e transtorno do espectro do autismo (TEA). "Tínhamos esperança de que os votos fossem favoráveis ao rol explicativo, que é o que se usava até agora. Mas rol taxativo vai restringir muito os atendimentos, principalmente os terapêuticos. É difícil precisar quanto tempo você vai estabelecer para ajudar o desenvolvimento de uma criança com autismo, 20, 30 sessões. Isso é inadmissível", comenta.
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A vida de milhões de pessoas teve a sentença de morte por causa de seis votos. Seis pessoas decidiram a vida de milhões de pessoas, entre elas a dos autistas. Deus tenha misericórdia daqueles que votaram a favor do rol taxativo e nos fortaleça como sociedade civil para lutarmos por políticas públicas que realizem atendimentos terapêuticos de qualidade e eficiência. E ainda que seja tarde demais, que a gente jamais desista dos objetivos e do direito de cada um, de cada pessoa, de cada família, de cada pessoa com autismo
Maristela Barros Mayer Ferreira, vice-presidente da Associação de apoio a deficiência Nossa Senhora das Graças (Agraça)
Maristela destaca que quando as famílias hoje conseguem atendimento por meio de convênios, leia-se que atendimento em convênio não necessariamente é porque as famílias são abastadas: "Muitas delas ou a maioria têm convênio com o sistema de saúde suplementar, já que o plano de saúde é muito caro".
As consequências imediatas, aponta a vice-presidente da Agraça, são a ruptura do atendimento, crianças que vão perder o vínculo com profissionais, vão perder a rotina e retroceder naquilo que elas já avançaram. "As consequências são imensuráveis. Não sabemos como serão atendidas, como vão se desenvolver e o impacto na sociedade daqui a 10, 15 anos, quando forem adultas."
"Não desistir, lutar"
"Infelizmente, quando se fala em intervenção precoce, que é o atendimento da criança nos primeiros seis anos de vida, percebemos que isso não vai incluí-las. Essas crianças estão condenadas. Algumas vão sobreviver, porque vão encontrar profissionais e entidades, como a Agraça, que vai atender de maneira voluntária, por meio de apadrinhamento, como fazemos. Mas, de maneira geral, se consideramos que no Brasil temos 2 milhões de pessoas com autismo, elas estão fadadas à negligência."