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Estado de Minas CRIME NA AMAZÔNIA

Bruno e Dom: dupla foi morta por munição de caça

PF confirma a identificação dos corpos de Bruno Pereira e Dom Phillips e laudo aponta o uso de arma de fogo muito comum entre caçadores


19/06/2022 07:50 - atualizado 19/06/2022 07:58

Jefferson da Silva Lima
Jefferson da Silva Lima se apresentou neste sábado (18/6) na delegacia de Atalaia do Norte (foto: João Laet/AFP)

 

Brasília - A Polícia Federal confirmou neste sábado (18/6) que parte dos restos mortais encontrados na região do Vale do Javari, no Amazonas, são do indigenista Bruno Pereira. A identificação do jornalista britânico Dom Phillips já tinha sido confirmada na sexta-feira. A comprovação da identidade das vítimas ajudou a esclarecer parte das circunstâncias envolvendo os assassinatos. Segundo laudo pericial da Polícia Federal, os dois foram executados com tiros disparados por um tipo de arma e munição muito usada em caças.

 

Dom e Bruno desapareceram em 5 de junho enquanto percorriam uma viagem de duas horas no Vale do Javari, no Oeste do Amazonas. A região é conhecida por abrigar a maior quantidade de indígenas não-contatados do mundo. A reserva tem sofrido com constantes conflitos com criminosos que tentam explorar as riquezas da região. 

 

Os corpos do jornalista e do indigenista foram identificados com base na arcada dentária. Na sexta, um exame papiloscópico, de impressões digitais, também complementou a identificação de Dom Phillips. De acordo com a PF, não há indicativos de presença de restos mortais de outras pessoas em meio ao material coletado.

 

Segundo a Polícia Federal, a morte de Dom foi provocada por traumatismo na região do tronco, com lesões na região abdominal e torácica. O laudo relata lesões causadas por um disparo de arma de fogo com munição de balins (esferas de chumbo ou aço que se espalham após um tiro de espingarda), muito comum entre caçadores na região.

 

O indigenista brasileiro foi morto por traumatismo no tronco e na cabeça, tendo sido alvo de três tiros: dois no tórax e abdômen e um na face. A polícia afirma que os disparos foram feitos com o mesmo tipo de arma de fogo.

 

Ativistas protestaram
Ativistas protestaram neste sábado (18/6) em São Paulo contra violência na região (foto: Nelson Almeida/AFP)

 

INVESTIGAÇÕES

A PF afirma que os peritos vão continuar os trabalhos nos próximos dias, com exames de genética forense, antropologia forense e métodos complementares de medicina legal. O objetivo é identificar totalmente os remanescentes e compreender a dinâmica dos eventos.

 

Dom Phillips e Bruno Pereira estavam na Amazônia pesquisando para um livro sobre a preservação ambiental. Eles foram vistos pela última vez em 5 de junho, quando navegavam rumo a Atalaia do Norte. Dali, boa parte dos militares começaram a se retirar na sexta-feira, muitos deles fortemente armados, enviados ao local para os trabalhos de buscas. A cidade fica no Vale do Javari, que abriga a segunda maior terra indígena do país, perto da fronteira com o Peru, e é conhecida por sua periculosidade. Atuam na região narcotraficantes, pescadores e garimpeiros ilegais.

 

ARAS VISITA HOJE O VALE DO JAVARI

 

O procurador-geral da República, Augusto Aras, viajará para Tabatinga para participar de uma série de reuniões neste domingo (19/6). Ele estará acompanhado de outros procuradores do Ministério Público Federal (MPF), entre eles a coordenadora da Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais, Eliana Torelly, o coordenador da Câmara Criminal do Ministério Público Federal, Carlos Frederico, e o procurador federal dos Direitos do Cidadão, Carlos Alberto Vilhena.

 

De acordo com a PGR, o objetivo da viagem é “discutir medidas e ações de reestruturação da atuação institucional na região amazônica, bem como ampliar a articulação do MPF com outros órgãos públicos com vistas ao combate à macrocriminalidade e ao enfrentamento de violações aos direitos indígenas, direitos humanos e outros crimes registrados na região”.

 

Os integrantes do MPF devem ter encontros com representantes do Ministério Público em Tabatinga, Exército e Fundação Nacional do Índio (Funai). Além disso, eles devem se encontrar com os integrantes da força-tarefa que apura os assassinatos de Bruno e Dom. 

 
 

Terceiro suspeito do crime é preso

 
Brasília - As autoridades continuam investigando a motivação, as circunstâncias do crime e seus eventuais vínculos com a pesca ilegal, um negócio muito lucrativo e que, segundo especialistas, serve para lavar o dinheiro do narcotráfico. Neste sábado de manhã, um terceiro suspeito, Jefferson da Silva Lima, conhecido como “Pelado da Dinha”, se entregou em uma delegacia de Atalaia do Norte.

As autoridades divulgaram uma foto do detido, um homem de baixa estatura, com boné e camiseta vermelha. Cabisbaixo e com o rosto coberto, foi levado para depor perante um juiz.

Em declarações à imprensa, o delegado da Polícia Civil Alex Perez Timóteo afirmou que “não temos dúvidas da participação dos três no duplo homicídio” e considerou “bem provável” que haja novas prisões nos próximos dias.

“Com a prisão do Jefferson, a gente vai tentar entender se houve algum acordo prévio ou se eles já estavam planejando essa situação”, acrescentou o delegado, que disse que o terceiro detido não é familiar dos outros dois, que são irmãos.

O desaparecimento e a morte de Phillips e Pereira gerou uma onda de solidariedade internacional e reacendeu as críticas contra o governo de Jair Bolsonaro, acusado de estimular as invasões de terras indígenas e sacrificar a preservação da Amazônia para sua exploração econômica.

Bolsonaro causou indignação ao assegurar que a incursão de Phillips e Pereira era uma “aventura não recomendável” e que o jornalista era “malvisto” na região por seu trabalho informativo sobre as atividades ilegais. O presidente, que participou neste sábado de uma motociata em Manaus, reagiu às mortes de Phillips e Pereira na quinta-feira, um dia depois da descoberta dos restos mortais, com um tuíte sucinto: “Nossos sentimentos aos familiares e que Deus conforte o coração de todos”.

DÚVIDAS

De acordo com a União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja), existe um grupo criminoso que estaria envolvido com o assassinato de Dom e Bruno. Já segundo a PF, os irmãos, junto a outros envolvidos, teriam agido por vontade própria. 

A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) contestou na sexta-feira a nota emitida pela Polícia Federal concluindo que não houve “mandante nem organização criminosa por trás do delito”. Segundo a entidade, em documento entregue às autoridades, há “nomes dos invasores, membros da organização criminosa, seus métodos de atuação, como entram e como saem da terra indígena, os ilícitos que levam, os tipos de embarcações que utilizam em suas atividades ilegais.”

Os indígenas afirmaram, também, que Bruno se tornou alvo dos criminosos por realizar um trabalho de mapeamento das atividades ilegais no Vale do Javari. Assim como ele, outros integrantes da Univaja receberam ameaças de morte por meio de bilhetes anônimos.

A conclusão da Polícia Federal também foi criticada pela representante no Brasil do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), Renata Neder. “É muito preocupante que nesta altura das primeiras etapas de uma investigação, as autoridades já tenham dito que os assassinos agiram sozinhos, que não há autor intelectual, nem participação de uma organização criminosa”. 


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