O trabalho feito pelo indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips terá continuidade. Um livro sobre como salvar a Amazônia estava sendo produzido em uma expedição pelo Vale do Javari (AM), local onde os corpos foram localizados, apontando as violações de direitos humanos na região.
Dessa forma, com o “Programa Tim Lopes” da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), colegas estão na região para concluir as investigações.
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Dom e Bruno: 4° suspeito pelo assassinado se entrega em São PauloDom e Bruno: Polícia Federal inicia hoje (22/6) perícia em embarcaçãoBruno e Dom: indigenista teria revidado após o primeiro tiro, aponta PFDom e Bruno: suspeitos dos assassinatos têm prisão preventiva decretadaPeruano suspeito de envolvimento na morte de Dom e Bruno é preso pela PF Conforme a apuração do jornalista Sérgio Ramalho, da Abraji, Bruno teria identificado que um secretário municipal e três servidores nomeados pelo prefeito teriam participação em pesca e caça predatórias e invasão de Terra Indígena.
Entre esses servidores, está o parente de Amarildo da Costa Oliveira, o “Pelado”, que foi preso por suspeita de ter participado do assassinato da dupla. Ele, inclusive, é citado como o chefe local do principal grupo de invasores.
Caça e pesca predatórias
Um dos colaboradores indigenistas, que mantém o anonimato, trabalhava com Bruno e deu detalhes à Abraji sobre a caça e pesca predatórias na região.
Vale ressaltar, antes de mais nada, que este é o nome dado à pesca que burla a legislação brasileira e provoca extinção de mamíferos aquáticos, diminuição de populações de quelônios, peixes e animais de valor econômico.
Entre eles, os pirarucus e tracajás são algumas dos mais valorizadas neste mercado clandestino. No entanto, no Vale do Javari, “o grupo também coleta ovos dessa espécie de cágado e caça mamíferos de médio porte, como a anta e o queixada, chamado de porcão pelos indígenas”.
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De acordo com a fonte ouvida pela Abraji, o “Pelado”, citado anteriormente, atuava como elo nessa cadeia de economia ilegal e atraía pescadores para expedições nas Terras Indígenas (que têm acesso proibido de não indígenas).
Assim, segundo a denúncia, ele “garantia um constante fluxo de mercadorias ao narcotraficante, que as enviava para a Colômbia e o Peru”.
Prejuízo
Essas expedições de grande porte têm um financiamento entre R$ 10 mil a R$ 20 mil, mas que tinha um lucro quatro vezes maior. Os grupos de pescadores chegam a ocultar as embarcações para não despertar atenção de fiscais, “sobretudo no período em que o indigenista Bruno Pereira coordenava o trabalho”.
“Rígido no cumprimento da lei, Bruno costumava impôr prejuízos a essa cadeia de economia ilegal. Contudo, além da apreensão dos peixes e quelônios, Bruno também danificava embarcações e seus motores, aumentando mais as perdas do grupo criminoso e a fúria dos predadores”, apontou o informante.
E continua: “O ativista conta que Bruno Pereira vinha fornecendo informações ao jornalista Dom Phillips sobre as relações suspeitas envolvendo pescadores ilegais com o narcotráfico e políticos da região. Dom estava escrevendo um livro sobre a TI do Vale Javari.”