O médico Giovanni Quintella Bezerra, preso por ter sido filmado estuprando uma parturiente durante uma cesariana, na sala de parto, é investigado por ao menos mais cinco outras violências sexuais. A suspeita é da delegada Bárbara Lomba, titular da Delegacia de Atendimento à Mulher de São João de Meriti (Grande Rio), responsável pelo caso. A Justiça do Rio de Janeiro manteve a prisão preventiva do anestesista, detido no último domingo.
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"Até ele saber da existência do vídeo, ele mostrava uma tranquilidade e simulava nem estar entendendo o que estava acontecendo. Ele perguntou o que se passava por saber que a ação (sem as imagens) ficaria impune. Seria muito difícil, em outras circunstâncias, dar crédito (às denúncias), infelizmente. Ele confiava que não seria punido", disse Bárbara.
Sussurros
Três mulheres que fizeram cesariana com Quintella estiveram, ontem de manhã, na Deam, e compareceram à delegacia com bebês no colo. Uma delas, uma técnica de radiologia de 30 anos, contou que deu à luz no dia 5 de junho, no Hospital da Mãe, em Mesquita, na Baixada Fluminense, e que a cirurgia foi assistida pelo anestesista.
"O que me chamou a atenção foi a anestesia geral. Tive outros dois filhos de cesariana e nunca havia tomado anestesia geral. Fiquei totalmente dopada. O Giovanni era o anestesista. Não sei se aconteceu alguma coisa comigo, eu estava sedada, mas quando eu vi as imagens dele, me desesperei. Quando começo a recordar, só lembro da voz dele, o tempo todo falando baixinho no meu ouvido", relatou a mulher, cuja identidade vem sendo preservada.
Ela estava acompanhada pelo marido, que contou ter sido expulso da sala de parto pelo anestesista, embora a presença de um acompanhante no parto esteja prevista em lei desde 2005. "Só pude acompanhar o parto até certo ponto. Depois, ele me mandou sair. Nunca tinha saído dos partos que participei antes. Ele só sedou a minha esposa depois que saí. É revoltante saber que isso pode ter acontecido com a esposa da gente. Estou mais tranquilo porque ele está preso", disse o marido da técnica de radiologia.
Na última segunda-feira, outra mulher que também teria sido vítima do anestesista, no último dia 6, foi à delegacia acompanhada da mãe e do marido para prestar depoimento. A mulher contou que, muito dopada no momento do parto, "achava ter tido uma alucinação". O marido dela também disse que foi impedido de acompanhar o parto por ordem do anestesista e que o reconheceu pelas imagens da tevê depois da prisão.
Com a prisão preventiva decretada, Quintella foi encaminhado ao presídio Pedrolino Werling de Oliveira, conhecido como Bangu 8, no Complexo de Gericinó, zona oeste do Rio. O anestesista passou por audiência de custódia ontem no presídio de Benfica, na zona norte da capital, para onde foi levado na última segunda-feira.
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) suspendeu, também ontem, o registro do anestesista. Dessa forma, ele fica impedido de exercer a medicina no estado.
"Em mais de 40 anos de profissão, não vi nada parecido. E o nosso comprometimento não acaba aqui. Temos outras etapas pela frente e também vamos agir com a celeridade que o caso exige", garantiu Clovis Munhoz, presidente do conselho.
A medida, segundo o Cremerj, "é um recurso para proteger a população e garantir a boa prática". Em paralelo, a entidade instaurou um processo ético-profissional contra Quintella, que pode levar à cassação definitiva do registro de médico.