Jornal Estado de Minas

EMBATE NAS REDES

Padre Júlio Lancellotti é criticado por postar foto com menino Jesus negro

Após publicar uma foto nas redes sociais segurando uma pequena escultura do menino Jesus negro, o padre Júlio Lancellotti dividiu opiniões, sendo alvo de diversas críticas. O religioso é acusado de promover uma “militância” e tentar “mudar a história”. 




 
A fotografia no centro da polêmica foi publicada pelo padre nesse sábado (24/12) em seus perfis oficiais do Twitter e Instagram. Diante da desaprovação, Lancellotti fez uma nova postagem neste domingo (25/12) na qual expõe alguns dos comentários. Segundo ele, o episódio pode ser entendido como “racismo estrutural”. 

 
“Uai, padre! Tá querendo mudar a história? Para poder lacrar? Acho que você precisa de um pouco mais de aula de história e teologismo. Não abdique dos ensinamentos para lacrar”, escreveu um internauta, conforme revela uma captura de tela publicada pelo padre. Outro usuário destacou: “Quando a militância vem antes da religião dá nisso aí mesmo”. 
 
Por outro lado, muitos seguidores saíram em defesa do religioso, rebatendo a ideia de que Jesus não poderia ser negro. “O Jesus branco de olho claro não é uma representação fiel, mas garanto que esse pessoal nem liga. Agora, uma representação negra incomoda essa galera”, opinou uma seguidora. 




 
“Jesus branco, bem ‘europeu’, olhos claros, madeixas em dia e crossfiteiro. Essas são as características de Jesus para eles”, publicou outro seguidor em tom de ironia. 
 
Com mais de 1,3 milhão de seguidores apenas no Instagram e vinculado à Arquidiocese de São Paulo, o padre Júlio Lancellotti é conhecido por suas ações sociais que visam atender, especialmente, pessoas em situação de rua. Nas redes, ele divide com os seguidores o trabalho que executa, além de levar palavras de fé às pessoas. 

Jesus negro ou branco?

Parte substancial das igrejas evangélicas no Brasil – principalmente as grandes denominações – tem sido conivente com a violência sofrida por pessoas negras e pobres das periferias de grandes cidades, segundo avalia o teólogo e pesquisador Ronilso Pacheco, de 44 anos, que também é autor do livro Teologia Negra, o sopro antirracista do espírito. 




 
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“Podemos chamar a Teologia Negra de um movimento teológico que está basicamente direcionado a questões de colonização e opressão das populações negras. Ela envolve os contextos de escravização e de políticas antinegras ao redor do mundo”, pontuou o pesquisador em entrevista à BBC Brasil em março de 2021. 
 
“Não há a discussão se Jesus era negro ou branco, porque em relação a isso não há muito o que discutir: é difícil imaginar uma figura branca na Palestina daquela época”, explicou Pacheco. 
 
Para o teólogo, Cristo branco elimina qualquer possibilidade de identificação teológica e bíblica com a população negra. "Deliberadamente, a presença e o protagonismo do continente africano são apagados, como uma forma de justificar a colonização e a escravização. Além disso, há uma tentativa de apagamento da tradição e religiosidade da África”, avaliou.