O Ministério da Saúde publicou nesta terça (27) uma recomendação para ampliar a vacina contra COVID-19 para todas as crianças de seis meses de idade até quatro anos.
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Na Nota Técnica n° 399 de 2022, o Ministério da Saúde, por meio da Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações (CGPNI), entendeu que a incidência de Covid na população menor de 5 anos de idade hoje é maior do que nas faixas etárias mais elevadas, e que nos bebês com menos de um ano a incidência de mortalidade chega a ser até oito vezes maior do que nos adolescentes de 15 a 19 anos.
"Considerando que a vacinação de crianças de 6 meses a 4 anos contra a Covid poderá evitar infecções pelo Sars-CoV-2, hospitalizações, Srag e óbitos, além de complicações como a SIM-P e pós-Covid a Coordenação Geral do Programa de Imunizações recomenda a vacinação de todas as crianças de 6 meses a 4 anos, 11 meses 29 dias de idade com o imunizante Pfizer/BioNTech", diz a nota.
A nota ainda reforça a eficácia e segurança da vacina, conforme dados de ensaios clínicos e da aplicação do imunizante em diversos países, e afirma que "a ampliação da vacinação para esta faixa etária possibilitará maior segurança aos pais cujas crianças frequentam berçários, escolas e ambientes externos".
A publicação vem quatro dias antes do fim do atual governo, que foi criticado por especialistas por atrasar a vacinação infantil. O ministro da Saúde Marcelo Queiroga chegou a fazer um apelo aos pais que levassem seus filhos a vacinar, mas não citou a COVID-19.
Em diversos momentos ao longo da pandemia, ele e o presidente Jair Bolsonaro (PL) desacreditaram a vacina.
Em setembro, a Anvisa aprovou a vacina pediátrica da Pfizer para bebês de 6 meses a 4 anos de idade, mas a Saúde só havia incluído crianças com comorbidades na campanha até então.
Para Renato Kfouri, diretor científico de imunizações na Sociedade Brasileira de Pediatria, a ampliação chega atrasada. "Menos mal que está ampliando para todas as crianças, mas isso vem desacompanhado de medidas de incentivo e de campanhas de esclarecimento sobre a segurança e importância da vacinação", critica.
Além da Pfizer, a vacina Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, foi liberada para aplicação em crianças de 3 e 4 anos. O encerramento de contratos do governo com o instituto paulista, porém, esgotaram as doses de Coronavac e atrasaram a aplicação da segunda dose em diversas capitais no país.
O governo eleito, porém, pretende mudar isso a partir de 2 de janeiro de 2023. O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, disse no início do mês que o governo vai começar "com uma grande campanha de vacinação já a partir de 2 de janeiro". A retomada do PNI e recuperação das coberturas vacinais de diversos imunizantes, não só da COVID-19, é uma das bandeiras de Lula (PT) para o seu governo.
A reportagem procurou a assessoria de imprensa da Fiocruz para falar com a Nísia Trindade, escolhida por Lula para chefiar a pasta de Saúde, mas ainda não teve retorno.
Restrição de vacinas virais
Além da recomendação da vacinação nas crianças, uma segunda nota técnica, publicada nesta terça (27), pede a restrição das vacinas de vetores virais (AstraZeneca e Janssen) apenas para adultos com mais de 40 anos, sendo administradas preferencialmente outras vacinas na população abaixo de 40 anos.
De acordo com a resolução, a decisão é dada por dois motivos principais: a situação epidemiológica mais favorável, com grande parte da população já vacinada com o esquema primário (duas doses ou dose única), e a ocorrência, embora rara, de eventos adversos graves relacionados às duas vacinas, como a trombose com trombocitopenia, tipo de coágulo que pode ser formado após a imunização com essas vacinas e associado à baixa contagem de plaquetas no sangue (ou células do sistema imune).
A incidência desses efeitos colaterais raros foi baixa em todo o mundo, mas ocorreu, em geral, em mulheres com menos de 40 anos. A EMA (Agência de Medicamentos Europeia, na sigla em inglês) e FDA (agência americana) já haviam feito recomendação parecida.
"No atual momento epidemiológico as vacinas de vetor viral devem ser realmente reavalidas a sua recomendação pelo risco de evento adverso grave inclusive com óbito. Não é para assustar ninguém, são raríssimos os eventos, mas tendo vacinas mais seguras e com ampla oferta, não faz mais sentido", disse Kfouri.