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Estado de Minas INVESTIGAÇÃO

Chacina de família no DF: dez dias depois do crime, mistério continua

Veja o perfil das vítimas da chacina que chocou o país. Elizamar e os filhos serão enterrados amanhã. Cinco pessoas ainda estão desaparecidas


22/01/2023 08:10 - atualizado 22/01/2023 09:08

Montagem de fotos : à esquerda , Elizamar, uma mulher loira e jovem; à direita seus 3 filhos abraçados
Elizamar é descrita por vizinhos e parentes como uma mulher trabalhadora e uma grande mãe (foto: Reprodução/Redes Sociais)

Dez dias depois, o desaparecimento de dez membros de uma mesma família no Distrito Federal ainda choca o Brasil. Cercado de mistérios, o caso necessita de muitas elucidações para ser concluído. Os corpos da cabeleireira Elizamar da Silva, 37 anos, e dos filhos, Gabriel, 7, Rafael, 6, e Rafaela, 6, serão velados e enterrados amanhã no cemitério de Planaltina, Goiás.

Segundo o irmão da cabeleireira, o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) está ajudando com as despesas funerárias. O Correio Braziliense conversou com amigos e familiares de Elizamar e do marido dela, Thiago Belchior, e traçou um perfil das vítimas. 


Desaparecidos desde quinta-feira (12/1), os corpos da mulher e dos filhos foram encontrados carbonizados dentro do carro dela no último sábado (14/1) em uma rodovia de Cristalina, Goiás. Ainda não há informações sobre o sepultamento do sogro de Elizamar, Marcos Antônio Lopes, 54, cujo corpo foi encontrado decapitado, na última quinta-feira (18/1). Marcos era funcionário de uma agropecuária, pai de três filhos também envolvidos no caso — Thiago, Gabriela e Ana Beatriz (desaparecida). 


A investigação ainda está em curso, uma vez que permanecem desaparecidos o marido de Elizamar, Thiago Belchior, 30; a ex-mulher de Marcos, Cláudia Regina, e a filha deles, Ana Beatriz. A mãe de Thiago, Renata Belchior, 52, e Gabriela Belchior, 25, também estão desaparecidas. Contudo, em depoimento, Horácio Carlos, 49, um dos presos pela polícia, confessou que os dois cadáveres do sexo feminino encontrados carbonizados dentro de um carro, em Unaí (MG), na tarde de sábado (14/1), são de Renata e Gabriela. A informação, entretanto, não foi confirmada pelo delegado que acompanha o caso em Unaí.


Apesar de a polícia ainda não ter confirmado que os corpos encontrados em Unaí são de Renata e Gabriela, a família Belchior está fazendo um financiamento coletivo na internet com o objetivo de arrecadar dinheiro para cobrir as despesas com velório, enterro e transporte.

A meta da família é arrecadar R$ 50 mil. No site utilizado como plataforma para arrecadação do dinheiro a família divulgou um texto fazendo um apelo à população: "Como a maioria das pessoas sabe, nossa família foi vítima de uma chacina aqui no DF, a imprensa está cobrindo todo o caso! São 10 pessoas mortas, não temos condições de cobrir o velório, enterro e transporte de todos. Viemos pedir a ajuda de vocês. Infelizmente, isso aconteceu com a nossa família toda de uma vez, e, por isso, precisamos da ajuda de vocês para podermos nos despedir deles da forma que merecem." Na plataforma, a família divulga que Marcos Antônio, Renata e Gabriele estão mortos e que Thiago, Cláudia e Ana Beatriz estão desaparecidos.


Estão presos preventivamente Fabrício Silva Canhedo, 34, Gideon Batista de Menezes, 55, e Horácio Carlos Ferreira Barbosa, 49, acusados de extorsão mediante sequestro e ocultação de cadáveres, além de associação criminosa. 

Quem era Elizamar?

Descrita por muitos como uma mulher trabalhadora e uma grande mãe, Elizamar da Silva, 37, desapareceu quinta-feira (12/1) junto com os três filhos, Gabriel, 7, e o casal de gêmeos Rafael e Rafaela, 6. Ela era dona do salão de beleza Eliza Coiffeur, localizado na 307 Norte. Ela tinha acabado de iniciar o próprio negócio e tinha planos para expandi-lo.


Vizinha de estabelecimento, Maria José, 49, é proprietária do salão Dory's Cabeleireiros e conhecia Elizamar há cerca de 8 anos. Ela conta que a convivência era agradável, já que a cabeleireira estava sempre alegre e era profissional muito competente. "Era uma pessoa leve e sempre fazia o trabalho dela direito", descreve.

Ao recordar a presença da amiga, Maria não consegue conter as lágrimas. Ela lembra que uma dia antes do desaparecimento, chamou a amiga para uma breve conversa. "Quando ela passou na minha porta, a chamei e disse a uma conhecida nossa que já brigamos muito, mas hoje tenho um carinho muito grande por ela. Virei para ela e disse: Eliza eu te amo. No outro dia ela sumiu", disse aos prantos.

Os filhos da cabeleireira

Emocionada com o relato, Patrícia Palma, 44, uma das clientes do salão, lembrou também da presença dos filhos de Elizamar no local. Descritas como crianças alegres e enérgicas, elas sempre ficavam junto com a mãe ou brincando pelo lugar. "Um dia antes do ocorrido, eles estavam aqui, muito alegres, correndo, muito educados e cheios de vida. Para mim, isso foi o mais chocante, porque eu saí daqui, já no fim do dia, vendo eles assim tão felizes, e mal podia imaginar que algo assim aconteceria", comentou.


Embora o clima de tensão e tristeza ainda pairasse no ar, na última sexta-feira (20/1), o salão de Elizamar reabriu. A reportagem foi ao local, mas os presentes se recusavam a falar, por medo de reviver as horríveis emoções trazidas pelo ocorrido.

Pai e filhos

Ao lembrar da amiga, Maria José também recorda sobre o companheiro dela Thiago Gabriel Belchior, 30. Assim como Eliza é lembrada como uma grande mãe, ele é descrito como um pai presente e dedicado. "Nunca vi o Thiago irritado, nem brigando com os filhos dele ou com a Eliza. Estava sempre aqui com as crianças ajudando a mim ou a ela", contou.


A imagem de uma figura paterna presente ainda está marcada na mente da cabeleireira, que se recusa a acreditar que ele tenha sido o autor do crime. "Ele era uma pessoa boa. Não creio que tenha sido ele. Não pode ser. Estava sempre tranquilo e amava os filhos dele. Não tem como", afirmou.

Dor e indignação

Se para quem trabalhava com Elizamar, a tristeza é grande, para os parentes dela é ainda maior. Edmilson Silva, 50, irmão de Elizamar, ainda não se conforma com o que aconteceu. "Ela era uma mulher trabalhadora e muito guerreira. Não sei como alguém tem coragem de fazer uma crueldade dessas. Estou péssimo, não consigo dormir, trabalhar, nem nada do tipo. Nossa mãe está muito mal também", indignou-se.


Emocionado, ele também lembra que era muito próximo a ela, mas isso foi ceifado por um crime hediondo. "Éramos muito próximos. Ela sempre dizia que eu era o irmão com quem ela sempre podia contar. E, realmente, podia, sempre tentava ajudá-la no que eu era capaz. Agora acabou", contou.


Para ele, a identificação de Marcos Antônio, pai de Thiago, como sendo o cadáver encontrado no cativeiro das vítimas faz com que a investigação ande. Entretanto, ele acha que ainda falta avançar mais no caso e tem hipóteses sobre o que, de fato, ocorreu. "Fiquei sabendo pela televisão que o acharam. Mas acho que ainda precisa analisar isso direito. Minha tese é que o pai mandou executar todo mundo pra ficar com o dinheiro. Na hora de se acertarem, houve algum desentendimento, e os homens mataram eles também", presume.


*Estagiário sob a supervisão de Euclides Bitelo

 


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