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Estado de Minas CRISE HUMANITÁRIA

Mais de 1.000 ianomâmis resgatados em Roraima

Segundo o secretário de Saúde Indígena, cenário nas comunidades é alarmante e número de doenças está subnotificado. Governo exonerou 33 coordenadores da Funai


25/01/2023 04:00 - atualizado 25/01/2023 07:36

Desnutridas, crianças ianonâmis recebem atendimento de agentes do ministério da Saúde, em Roraima
Desnutridas, crianças ianonâmis recebem atendimento de agentes do ministério da Saúde, em Roraima: 47 estão internadas (foto: Condisi-YY/Divulgação)

O secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Ricardo Weibe Tapeba, classificou como alarmante o cenário da saúde pública nas comunidades ianomâmis, disse que mais de 1.000 indígenas foram resgatados, e afirmou que há subnotificação de casos de doenças. “Nós acreditamos que mais de 1.000 indígenas foram nesses últimos dias resgatados do território para não morrer, né? [...] Nós acreditamos que há inclusive uma subnotificação muito grande [de doenças]", afirmou Tabepa nessa terça-feira (24/1), em Boa Vista (RR).

Região com 30 mil habitantes em Roraima, a terra indígena ianomâmi vive uma explosão de casos de malária, incidência de verminoses facilmente evitáveis, infecções respiratórias e agravamento da desnutrição, especialmente entre crianças e idosos. O quadro de desassistência em saúde no território é agravado pela permanência de mais de 20 mil garimpeiros invasores na área demarcada.

O secretário de Saúde Indígena participou de uma incursão em três comunidades ianomâmis com o apoio da Força Aérea Brasileira e afirmou que as comunidades vivem um cenário de guerra. “Eu estive no território; quando eu falo em operação de guerra, não é figura de linguagem. [Temos] a todo momento aeronaves pousando e decolando, trazendo e levando pacientes graves”, disse Tapeba, destacando que foram resgatadas crianças com quadro de desnutrição grave e jovens com malária em estado crítico.

Ele afirmou que ainda há regiões do território ianomâmi em que as equipes do governo ainda não conseguiram acessar devido à complexidade logística e questões de segurança, já que parte das comunidades foi invadida pelo garimpo ilegal. “O garimpo invadiu as aldeias e essas comunidades estão à mercê do crime organizado. Eu não falo garimpeiros, eu falo crime organizado, porque são muitas pessoas armadas coagindo e não se intimidam com a presença da Força Aérea Brasileira”, disse Tapeba.

Ele ainda cobrou a implementação de um plano de retirada do garimpo ilegal da terra indígena, seguindo inclusive uma decisão do Supremo Tribunal Federal que determina a remoção de 20 mil garimpeiros. “O que nós estamos fazendo aqui é um caminho sem volta, que vai finalizar com a remoção dos garimpeiros”, completou.

Na sexta (20/1), o Ministério da Saúde decretou Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional. Três dias depois, enviou uma equipe da Força Nacional do SUS (Sistema Único de Saúde) para Boa Vista com 12 profissionais, que farão a operação de um hospital de campanha que deve ser montado na sexta-feira (27/1).

Eles vão prestar serviço na Casa de Saúde Indígena Ianomâmi e no hospital de campanha que está sendo preparado pelo Exército Brasileiro em Boa Vista. São 11 voluntários assistenciais e um da equipe de gestão central.

Em visita a Boa Vista no sábado (21/1), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou auxílio aos habitantes da região e combate ao garimpo ilegal. Na data, o petista disse ter visto durante a semana fotos que o abalaram e que a situação encontrada foi de abandono.

Exonerações 

O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) exonerou 33 coordenadores da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e dispensou outros quatro servidores que ocupavam cargos de coordenação. As publicações foram divulgadas em edição extra do Diário Oficial da União de segunda-feira (23/1).

Também foram exonerados cinco assessores da presidência e o chefe de gabinete da fundação, assim como o diretor do Museu do Índio da Funai. Foi dispensado ainda o corregedor da Funai.

Sobre as demissões, Ricardo Weibe Tapeba afirmou que a saúde indígena estava aparelhada pelo militarismo, e adiantou que a Sesai está avaliando em Brasília novos coordenadores dos distritos e que os cargos não terão indicações políticas.

47 crianças estão 
internadas em Roraima

A Secretaria Municipal de Saúde de Boa Vista informou que as crianças ianomâmis estão internadas no Hospital da Criança da capital de Roraima, única unidade de saúde que atende aos casos pediátricos de média e alta complexidade no estado. As principais causas de internação são: diarreia e doença gastrointestinal aguda; desnutrição grave; pneumonia; malária; e acidentes com cobras.

Segundo o Ministério dos Povos Indígenas, 570 crianças desse povo morreram por contaminação por mercúrio e fome, causadas pelo “impacto do garimpo ilegal na região”, nos últimos quatro anos. Profissionais de saúde relatam falta de segurança e vulnerabilidade para continuar os atendimentos, dificultando ainda mais a assistência médica aos indígenas.

Investigação 

Em 30 de novembro do ano passado, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF) fizeram uma operação para combater um suposto desvio de recursos públicos destinados à compra de medicamentos para os ianomâmis.

As supostas fraudes no governo anterior teriam causado a retenção de medicamentos, em especial vermífugos, o que deixou 10.193 crianças desassistidas, segundo a PF. O resultado foi um “aumento de infecções e manifestações de formas graves da doença, com crianças expelindo vermes pela boca”. De 13.748 crianças aptas ao tratamento de verminoses no primeiro semestre de 2022, apenas 3.555 receberam tratamento, segundo os dados usados nas investigações.

Um hospital para crianças em Boa Vista (RR) atendeu mais de 300 crianças ianomâmis com desnutrição ou malária num período de 15 meses. De acordo com o MPF, 52% das crianças ianomâmis estão desnutridas. Nas comunidades mais isoladas, o índice chega a 80%.

O quadro crítico é notado também com a malária. Foram 44 mil casos da doença em menos de dois anos, e o cenário é de que toda a população ianomâmi foi infectada, com descontrole do surto, como descreve o MPF na recomendação em 2021. (Folhapress)

Bolsonaro fala sobre 
contato com indígenas

Em meio à crise humanitária vivida pelos ianomâmis, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou ontem, em Orlando (EUA), que, durante viagem a São Gabriel da Cachoeira (AM), perguntou a indígenas da etnia ianomâmi o que eles queriam e que a resposta foi 'internet'. A fala foi feita de passagem, enquanto Bolsonaro conversava com apoiadores e exaltava feitos de seu governo.

Bolsonaro visitou São Gabriel da Cachoeira em 27 de maio de 2021, onde fica a comunidade de Maturacá. É a mesma etnia, mas em uma região diferente da visitada neste ano por Lula, em Roraima, quando o governo decretou estado de emergência para combater a falta de assistência sanitária na região.

“Nós temos o que o Brasil precisa para o agro. Alguns estão em terras indígenas. Tem um projeto na Câmara, que acho que não vai para frente agora, para poder explorar isso, dando royalties para os indígenas, se assim eles concordarem. Muitas tribos, muitas etnias passaram a investir no agro, o [povo] paresi já vinha investindo lá em Mato Grosso, outras vieram. Levamos internet para as aldeias. Eu tive uma vez lá em São Gabriel [da Cachoeira], conversei com alguns ianomâmis. Eu perguntei: O que vocês querem?. ‘Internet’”, disse a apoiadores em frente da casa onde está hospedado.

Nesse momento, a reportagem perguntou o que o presidente tinha a dizer sobre a situação atual dos ianomâmis, mas o ex-presidente se negou a comentar. “Não vou responder a você. Com todo o respeito a você, não vou te responder.”

Na sequência, Bolsonaro também comentou a investigação da PF sobre o assassinato de Dom Phillips e Bruno Pereira, em junho do ano passado. Nessa segunda, a PF afirmou que o mandante do crime foi Ruben Dario da Silva Villar, apelidado de Colômbia.

“Vocês lembram do cara, um brasileiro e um estrangeiro que foram mortos lá na Amazônia. Botaram a culpa em mim, né? Ontem descobriram que veio da Colômbia. Não do governo colombiano, vamos deixar bem claro, veio do pessoal da Colômbia. E assim vai.”
(Folhapress)


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