Uma suástica nazista e uma “ordem” em tom homofóbico para deixar a própria casa foram encontradas no portão do imóvel onde reside um casal gay em Brás de Pina, na Zona Norte do Rio de Janeiro (RJ), no último sábado (28/1). Em entrevista ao Estado de Minas nesta segunda-feira (30/1), o recepcionista André Dias, de 33 anos, casado com o professor de inglês Sérgio Viula, de 53, diz que foi surpreendido com as pichações criminosas ao sair de casa no início da tarde para ir ao mercado.
Natural de Belo Horizonte, André morava em Contagem, na Região Metropolitana, quando conheceu Sérgio há sete anos. À época, o atual companheiro viajou à capital mineira para curtir o carnaval belo-horizontino. Quase dois meses após o primeiro encontro, André se mudou para o Rio para viver com o homem que ele ama.
“Mas como viver em um país onde a gente é invalidado o tempo todo pela nossa existência e orientação sexual? No que isso desrespeita as outras pessoas e é motivo de tanto ódio?”, desabafa o recepcionista, destacando suas múltiplas reações ao ver uma suástica e "fora, gays" escrito no portão.
“Quando vi aquilo fiquei assustado e entrei em pânico, mas, ao mesmo tempo, tive um sentimento de solidão. Quem fez isso está observando a gente e sabe que aqui mora um casal gay. Isso foi o que me deixou com mais medo. Já passei por constrangimentos, incluindo episódios de homofobia em uma empresa que trabalhei. Porém, nessa gravidade e com esse tom de ameaça foi a primeira vez.”
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Agora, Sérgio e André tentam conseguir imagens de câmeras de monitoramento que possam auxiliar na identificação do autor da ameaça e ofensas homofóbicas. Além do registro da ocorrência junto à Polícia Militar do Rio, o casal denunciou o caso no Ministério Público Federal (MPF) e no Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDH).
Procurada pela reportagem, a Polícia Civil do Rio de Janeiro informou que a ocorrência foi registrada na 22ª DP, no bairro da Penha, onde “diligências estão em andamento para esclarecer todos os fatos”.
'Tentei me adequar aos padrões sociais'
Morando no mesmo local há mais de cinco décadas e desde 2016 com o atual companheiro, o professor Sérgio Viula garante que sempre teve uma boa relação na vizinhança, que não mudou muito nos últimos 53 anos. “Eles me viram crescer, casar com uma mulher, ter filhos e me separar. Nunca sofri nenhum tipo de discriminação”, pontuou Sérgio ao fazer uma transmissão ao vivo em seu perfil no Instagram.
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Ao Estado de Minas, ele conta que passou por todas essas mudanças com apoio de pessoas próximas e sendo respeitado pela vizinhança. “Muito antes de sair do armário, eu me casei quando tinha 20 anos. Meu casamento aconteceu em virtude de convicções tradicionais, familiares e religiosas. Tentei me adequar aos padrões sociais e heteronormativos. Achei que, de fato, tinha encontrado meu caminho”, lembra.
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Ao Estado de Minas, ele conta que passou por todas essas mudanças com apoio de pessoas próximas e sendo respeitado pela vizinhança. “Muito antes de sair do armário, eu me casei quando tinha 20 anos. Meu casamento aconteceu em virtude de convicções tradicionais, familiares e religiosas. Tentei me adequar aos padrões sociais e heteronormativos. Achei que, de fato, tinha encontrado meu caminho”, lembra.
“Quando me separei, minha filha e meu filho tinham 11 e 9 anos. Todos, incluindo meus amigos, me apoiaram e entenderam o motivo da separação”, completa Sérgio, que, inclusive, já é avô e eventualmente cuida da neta, fruto do relacionamento da filha que se casou com um português e mora no país europeu. “Eles estiveram aqui em dezembro e nós cuidamos dela para que eles pudessem aproveitar e passear um pouco na cidade”, finaliza.