“A volta do incentivo”, foi assim que alunos e professores contemplados pelo reajuste nos valores das bolsas de graduação, pós-graduação, de iniciação científica e na Bolsa Permanência assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta quinta-feira (16/2), descreveram a iniciativa. O jornal Estado de Minas conversou com quatro bolsistas que vão receber o reajuste, que variam entre 25% e 200% e passam a valer a partir de março.
Para Dalila Lima Bueno Torres, graduanda em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o reajuste coloca as pesquisas em um patamar de relevância. Ela explica que o incentivo, além de ajudar nas despesas, também ajuda a manter os alunos que deixaram suas casas no interior para morar na capital mineira. “O reajuste vai ser muito bom porque eu e muitos outros pesquisadores saímos de casa e do interior para morar na capital. E esse dinheiro ajuda a gente se manter aqui. É um incentivo muito bom para a gente se manter entusiasmada com a pesquisa e com o laboratório. Muita coisa vai melhorar agora. Sinto que vai ser muito bom”, disse.
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Augusto Moura Martins, doutorando da Engenharia Mecânica da UFMG, conta que não conseguiu a bolsa de imediato e iniciou como professor substituto. Após o fim do contrato, ele acabou ficando quase um ano sem renda. Ele conta que, durante o tempo que passou como professor, acabou juntando um dinheiro e assim conseguiu se sustentar.
“As bolsas não são reajustadas desde 2013 e os valores realmente estão defasados. O pesquisador é um profissional qualificado e a bolsa é o seu salário. Em qualquer outra função esses valores já teriam sido reajustados. Com o reajuste podemos ficar mais tranquilos em relação aos gastos. Eu não preciso sustentar uma família como alguns colegas, mas tenho as despesas como aluguel que consomem grande parte dos valores. O que eu pago de aluguel hoje seria 60% da bolsa de mestrado. Isso faz com que algumas pessoas já na pós-graduação continuem dividindo moradia, como os alunos de graduação fazem”, disse.
O professor conta que agora, com o novo reajuste, será capaz de guardar dinheiro para se sustentar depois de terminar o doutorado. Porém, para ele, o incentivo não é a solução de todos os problemas. “O aumento nas bolsas é importante, mas para fazer as pesquisas também precisamos de acesso a outros recursos. Muitas vezes não temos verbas para realizar alguns tipos de análise e até para a manutenção dos equipamentos.”
Já Ives Teixeira Souza, doutorando em Comunicação Social pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UFMG, teve bolsa Capes apenas durante os 7 meses finais, por causa da redução sistemática do número de bolsas nos últimos anos, e acabou ficando sem saber se receberia o benefício para o doutorado. “Com isso, após a finalização da escrita do meu mestrado, eu voltei para a minha cidade natal, Sete Lagoas. O doutorado começou em março, mas apenas em junho de 2022 o Programa de Pós-Graduação liberou uma bolsa Capes de doutorado para mim. Só que o custo de vida elevado em BH fez com que eu ainda continuasse a morar em Sete Lagoas. Foi mais válido ir e voltar de Sete Lagoas para os compromissos na UFMG, na Pampulha, do que voltar a morar em BH”, conta.
Segundo Ives Teixeira, apesar da dificuldade, ele acabou se vendo em uma situação de privilégio em relação a outros colegas. “Eu ainda tive essa oportunidade por ser uma cidade que faz parte do Colar Metropolitano, mas é algo bem mais complicado para os meus outros colegas de doutorado, por exemplo, que não tiveram essa oportunidade de escolha. Colegas do Maranhão, de Poços de Caldas, de Governador Valadares tiveram que arcar com seus custos em BH, mesmo com a bolsa de R$ 2.200. A situação foi ainda mais caótica quando o pagamento não foi realizado na data correta, no último dezembro”, conta.
“Agora, com o reajuste da bolsa, que não acontecia desde 2013, eu vou voltar a morar em BH. O aumento de 40% pode parecer muito, mas além de não ter ocorrido sequer um aumento nos últimos 10 anos, o pesquisador bolsista possui vínculo de dedicação exclusiva, sem direitos trabalhistas, por exemplo. É um profissional que pesquisa diariamente, dá aulas nos cursos de graduação, e que não possui os direitos trabalhistas reconhecidos, pois não há vínculo empregatício com a Capes, com o Cnpq ou com a própria Universidade”, afirma.
Henrique Caixeta Moreira, do departamento de Comunicação Social da UFMG, afirmou ter ficado “muito feliz” com o reajuste. “Foi uma batalha. Tivemos várias conversas com o governo de transição e também com o governo atual. Foi uma notícia muito boa. Fizemos várias mobilizações, manifestações e o combinado nunca era cumprido”, disse. Para ele, o reajuste de 40% ainda não foi o suficiente, mas irá fazer uma “diferença muito grande” na vida dos pós-graduandos.
Incentivo
As bolsas de mestrado passarão dos R$ 1.500 para R$ 2.100. As de doutorado, vão de R$ 2.220 para R$ 3.100. Nas duas, o reajuste é de 40%. Já as bolsas de pós-doutorado, ele é de 25%, subindo de R$ 4.100 para R$ 5.200.
Os alunos de iniciação científica no ensino superior terão um acréscimo de 75% nas bolsas, de R$ 400 para R$ 700. Já para estudantes do ensino básico serão 53 mil bolsas para estimular a introdução à pesquisa e produção de ciência. O valor vai passar dos atuais R$ 100 para R$ 300.
A Bolsa Permanência terá o seu primeiro reajuste desde que foi criada, em 2013. Com valores entre R$ 400 e R$ 900, os percentuais de aumento vão variar entre 55% e 75% – podendo chegar a até R$ 1.575.
A formação de professores da educação básica também terá reajuste entre 40% a 75% dos atuais repasses que variam entre R$ 400 e R$ 1.500. Serão 125,7 mil bolsas para aprimorar a qualificação dos educadores.
Os aumentos passam a valer em março, e será pago o valor retroativo a janeiro.