Imagens publicadas por membros do grupo em redes sociais mostram que ao menos 20 pessoas desfilaram com o grupo fantasiado com a imagem de Hitler neste carnaval. A indumentária recebeu críticas e acusações de apologia ao nazismo nas redes sociais.
A Polícia Civil não informou se tem alguma investigação sobre o caso.
O grupo costuma sair da favela Congonha, em Madureira, e perambular até as imediações da estação de trem do bairro. A reportagem não conseguiu contato com integrantes do grupo. A maioria dos participantes não retornou contato ou se negou a dar entrevista.
Um membro da turma que não saiu neste ano e pediu anonimato disse que a imagem a Hitler estampada na fantasia não visava criticá-lo nem exaltá-lo. O único objetivo, disse, era evocar algo que fugisse do cotidiano dos membros.
Publicações mostram que os homenageados de outros anos foram o time de futebol Paris Saint German (2021) e o cantor Michael Jackson (2020), por exemplo.
Não é, porém, a primeira vez que a imagem de Hitler é usada por bate-bolas. No Carnaval de 2006, um grupo foi detido pela Polícia Militar em Bento Ribeiro (zona norte) com fantasias estampando o rosto do ditador alemão e também suásticas.
Nazismo é crime
A pesquisadora Aline Valadão, 54, que acompanha esses grupos pelo subúrbio carioca há 20 anos, conversou com os detidos na ocasião. Segundo ela, eles disseram que não tinham noção de que apologia do nazismo era crime. Alegaram que tinham como objetivo apenas usar a imagem de uma figura pública maligna e afrontosa.
"Bate-bola é lúdico, mas não é um personagem bonzinho. Às vezes as pessoas distorcem isso e acabam focando muito na questão do poder", complementa, em referência às fantasias aludindo a Hitler.
A tradição dos clóvis (ou bate-bolas) é uma brincadeira popular de origem imprecisa, segundo Valadão.
Nos carnavais das zonas norte e oeste, grupos de amigos saem pelas ruas fantasiados como palhaços, batendo bolas presas por uma rede ou corda a um cabo. A cada ano o tema da vestimenta muda.
"Existe um arquétipo geral [do que é um bate-bola]. Cada grupo produz uma versão desse arquétipo; cada grupo produz a sua indumentária como base num entendimento que é muito particular [do que é ser bate-bola]. Isso acontece também com esses temas: normalmente são temas ressignificados", explica a pesquisadora.
"As turmas às vezes usam personagens do Walt Disney, mas nunca é o personagem como foi concebido; eles sempre mudam algumas coisas. Existem apropriações que são intencionais e outras que não são. E nessa brincadeira, a questão do poder, de se impor através do medo, é muito presente."