Jornal Estado de Minas

VIOLÊNCIA

Parentes e amigos se despedem de professora morta em ataque a escola em SP

O corpo da professora Elisabeth Tenreiro, 71 anos, morta a facadas por um aluno da Escola Estadual Thomázia Montoro, em Vila Sônia (Zona Oeste de São Paulo), foi velado, ontem, na capital paulista. Na porta da escola, foi estendida uma faixa com a mensagem "professora Elisabeth presente, chega de violência" e muita gente depositou flores no local. Pais e alunos acenderam velas e levaram rosas brancas em homenagem à professora Beth, como era chamada pelos colegas e alunos. O governo do estado decretou três dias de luto oficial. A escola permanecerá fechada até o fim de semana.




 
O crime ocorreu na manhã de segunda-feira. Um dos alunos entrou na escola armado com uma faca e, além da professora, atacou mais cinco pessoas. Mesmo com os braços enfaixados pelas três facadas que levou, a professora de história Rita de Cássia Reis fez questão de comparecer ao velório da colega de trabalho. Ela disse que terá dificuldade para retornar à sala de aula, mas que a dor física "é o de menos". "Ele veio para cima de mim. E foi tudo muito rápido. Não consigo nem lembrar de quando saí da escola, quando cheguei ao hospital. Na sala onde eu estava tem bastante sangue, que é meu. Mas, na sala do lado, tem o sangue da minha colega que acaba de ser enterrada", relatou, emocionada.
 
 
Paulo Silva, de 18 anos, lembrou com carinho da professora Beth. "Ela ajudava os alunos até em questões pessoais. Era a única professora que se preocupava com os problemas das nossas vidas. Era como se fosse nossa avó." Segundo estudantes que testemunharam os ataques, a professora foi atacada pelas costas enquanto olhava o celular na mesa da sala de aula.

Depois de imobilizado por duas professoras, o autor dos ataques foi levado para a delegacia de polícia acompanhado dos pais. No início da noite, seguiu para o Juizado da Infância e da Juventude e, depois, para o Instituo Médico Legal (IML), onde se submeteu a exame de corpo de delito, antes de ser transferido para uma unidade da Fundação Casa, instituição que recebe crianças e adolescentes.





Ontem, o menino prestou depoimento à Promotoria de Justiça de Infância de Juventude da capital paulista. Após a oitiva, retorna à unidade da Fundação Casa, onde aguardará, por prazo máximo de 45 dias, a audiência de apresentação, na qual será definida a medida socioeducativa que deverá cumprir. O prazo máximo de internação em unidade especializada, caso seja definida pela Justiça, é de três anos.

A polícia de São Paulo informou que pedirá a quebra de sigilos telefônicos e de dados para apurar se o adolescente recebeu ajuda ou orientação de um mentor para executar o ataque. Os computadores e telefones celulares usados por ele para acessar a internet passarão por perícia técnica. De acordo com a polícia, o menino chegou a postar, em sua conta no Twitter, que cometeria o crime. No tuíte, escreveu que esperou "a vida inteira" por esse dia. Em depoimento, informou à promotoria que planejava o ataque havia dois anos.
 
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As redes sociais dele também serão analisadas pela Polícia Civil, e as contas com as quais interagiu também serão analisadas. Investigadores estiveram na escola, na manhã de ontem, para recolher as imagens das câmeras de segurança que registraram a movimentação do menor até o momento dos ataques. Em uma primeira avaliação, os policiais não viram ninguém acompanhando o menino, que, aparentemente, agiu sozinho. Segundo o secretário de Segurança do estado, Guilherme Derrite, todos que curtiram ou postaram comentários nas redes sociais do agressor também serão investigados.





"Perfil agressivo"
 
No início de março, o adolescente foi transferido da escola estadual José Roberto Pacheco, em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, para a Escola Thomázia Montoro, onde praticou o ataque. Segundo uma das coordenadoras da escola estadual, o adolescente postava fotos com armas e simulava ataques violentos. Ele chegou a usar um aplicativo de mensagens para enviar fotos de armas a outros alunos, o que causou temor em alguns pais. Por isso, a direção da unidade de ensino decidiu registrar um boletim de ocorrência apontando que o aluno tinha "um comportamento suspeito nas redes sociais, postando vídeos comprometedores, como, por exemplo, portando arma de fogo, simulando ataques violentos". De acordo com um colega de turma, o autor dos ataques se envolvia com frequência em brigas e discussões, inclusive fazendo ofensas racistas. "Ele ameaçava de morte, falava: 'Vou matar todo mundo'."
 
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Na Thomázia Montoro, segundo relatos de estudantes, a professora Beth chegou a apartar uma briga entre o autor dos ataques e um colega, que reagiu ao ser chamado de "macaco" pelo menino. A professora Rita narrou um incidente semelhante. Disse que o autor dos ataques "era quieto, mas agressivo, não levava desaforo, brigava por qualquer coisa".

"Sou professora de história, meu conhecimento de psicologia e pedagogia é pouco, não saberia traçar um perfil. Mas sei que é um perfil violento, agressivo. Não conosco (os professores), mas com os colegas, sim", contou Rita ao chegar no velória da colega assassinada.
 
*Estagiária sob supervisão de Vinicius Doria