Na Semana Santa, cada cidade tem seus ritos tradicionais. Em Goiás (GO), há uma manifestação religiosa de origem medieval, com quase 300 anos de história. A chamada Procissão do Fogaréu acontece na quarta-feira que antecede a Sexta-feira da Paixão e foi realizada neste ano no último dia 5 e reuniu 60 mil pessoas. As imagens da celebração circularam nas redes sociais e foram questionadas por um internauta, que comparou o rito à Ku Klux Klan, grupo supremacista branco dos Estados Unidos.
A encenação, que surgiu em 1745, reproduz a prisão de Jesus Cristo. No rito, as luzes da cidade são apagadas por volta da meia-noite. Um grupo de 40 pessoas, chamadas de farricocos, representam os soldados romanos que prenderam Jesus. Os passos são marcados por tambores e as tochas servem para iluminar o caminho. Durante a procissão, os farricocos vestem roupas coloridas e chapéus pontudos que tampam a face, com apenas dois buracos para os olhos.
É justamente a vestimenta que foi relacionada à Ku Klux Klan. Criada nos Estados Unidos, por volta de 1865, a Ku Klux Klan (KKK, na sigla) representava os ideais supremacistas brancos, especialmente após o fim da Guerra Civil Americana. A organização promovia atentados contra os negros recém-libertos, com assassinatos e torturas. Os brancos que defendiam os direitos dos negros também eram perseguidos.
Um dos maiores símbolos da KKK é uma vestimenta branca, com um capuz cônico da mesma cor, que também esconde o rosto. A ideia era esconder a identidade daqueles que praticavam a violência, além de intimidar as vítimas. A semelhança, para o internauta, seria o suficiente para dar fim à Procissão do Fogaréu.
“Podem dizer que é tradição ou o escambau, estamos em tempos de guerra contra o fascismo, o nazismo e principalmente o racismo, se é tradição que se mude a tradição, quem já viu qualquer um filme sobre a Ku Klux Klan, sabe do que estou falando”, disse o homem no tweet que foi visto por quase 60 mil pessoas.
Vale destacar que a procissão surgiu antes da KKK, não tendo, assim, nenhuma relação com o pensamento supremacista branco. Mas o questionamento levou as pessoas a se dividirem entre aqueles que apoiam o cancelamento e os que defendem a tradição.
“Onde é isso? Que horror! Mesmo com roupas coloridas, há o histórico do mal por trás disso. E as pessoas batem palmas”, questionou um perfil. “Toda tradição que esboça ou lembra movimentos pró violência em tempos de tanta violência deve ser extinta, a história cobra atitudes da gente eu não consigo enxergar nada de bom nessa manifestação aí”, pontuou outro.
Houve quem dissesse que as imagens causem medo naqueles que assistem à manifestação.“A máscara de cartolina, que coisa mais horrorosa esse cosplay da Klan, tomara que a cartolina pegue fogo”, afirmou um internauta. “Talvez toda e qualquer outra explicação seja apenas uma mentira que disfarça e engana quem não conhece as histórias”, apontou uma mulher relacionando a procissão à KKK.
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Por outro lado, os que defendem a tradição pontuaram que a manifestação religiosa antecede o movimento supremacista. “Por que deveríamos mudar uma tradição por causa de criminosos dos EUA?”, perguntou um perfil. “Isso existe na Espanha e na Itália desde a Idade Média, mais de mil anos... Temos que combater o fascismo, a KKK, o nazismo e também a ignorância”, defendeu outro. “Isso não tem a ver com Ku Klux Klan, isso é festejo tradicional”, afirmou outro internauta.
Quem mora em Goiás pediu mais respeito pelas tradições locais: “Vá à cidade de Goiás assistir à Procissão do Fogaréu em 2024. Mas vá de coração aberto, pois é uma manifestação religiosa que não merece ser descaracterizada porque depois de muito nazifascismo acharam-na semelhante à KKK. É parte da cultura do povo Goiano. Respeite.”