O carro da jornalista Alana Rocha, de 43 anos, foi apedrejado, na quinta-feira, na frente da rádio em que trabalha, na cidade de Riachão do Jacuípe, a 190km de Salvador. Ela foi a primeira repórter transexual a atuar em TV aberta no Brasil e comanda um programa de grande audiência na região, em que acompanha as atividades da prefeitura e da Câmara de Vereadores, e debate problemas do município e das cidades vizinhas. Após o atentado, ela registrou um boletim de ocorrência na delegacia local, que abriu inquérito.
O "Correio Braziliense" apurou que há pelo menos uma testemunha do momento em que o carro da jornalista foi depredado, e apontou a possível participação de um político de Riachão do Jacuípe. Alana espera que as imagens das câmeras de segurança apontem os autores do ataque.
Essa foi a segunda vez em que teve o carro depredado. Jornalista com 21 anos de profissão, ela registrou mais de oito boletins de ocorrência denunciando ameaças — a maioria de caráter transfóbico — e três agressões físicas.
"Sofri muitas ameaças aqui na cidade, principalmente agressões verbais, por parte de políticos da região, principalmente vereadores, que se aproveitam da imunidade parlamentar para me atacar", denuncia. Essa foi a segunda vez em que teve o carro vandalizado. Na primeira, o ataque veio acompanhado de uma mensagem: "Ou cala a boca ou a próxima pedrada vai ser em você".
O caso foi denunciado à Associação Baiana de Imprensa e ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Bahia, que estão acompanhando o andamento das investigações. Em nota, o presidente do sindicato, Moacy Neves, informou que disponibilizou a estrutura da entidade para dar apoio à jornalista, mas entende que "é preciso ir além" para "criminalizar e punir esses e quaisquer outros autores de agressões à categoria".
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) também monitora o caso. Segundo dados da entidade, em 2022 foram relatados 557 ataques a jornalistas, um aumento de 23% em relação ao ano anterior. "Em 145 casos, as agressões apresentaram traços explícitos de violência de gênero e/ou vitimaram mulheres jornalistas. Os discursos estigmatizantes, violência verbal que busca minar a credibilidade de profissionais e veículos midiáticos, são a forma de ataque mais comum — alcançando 61,2% dos alertas em 2022", informa a Abraji.
"Essas tentativas de calar a voz que ecoa da população mais necessitada, mais discriminada, não pode ser rotina neste país", desabafa Alana.