Patrícia conta ter notado que algo de diferente estava acontecendo com os filhos, quando comparados com a primogênita, Eduarda, hoje com 16. Eles não se sentavam nem andavam. Ela suspeitava ser consequência da prematuridade e que, com o tempo, iriam evoluir.
Após testes e exames, a mãe diz que estava sozinha no dia que recebeu o diagnóstico de paralisia cerebral dos quadrigêmeos. O trecho de uma hora de carro para voltar até sua casa, em São José dos Campos, foi o tempo que levou para assimilar a notícia.
"Nunca procurei saber o motivo da paralisia. Não faz sentido para mim. Nossa realidade continuaria a mesma e o amor sempre vai prevalecer. Diagnóstico não é destino e sempre vou procurar os melhores tratamentos para eles", disse.
Nível diferente de paralisia
Cada um desenvolveu um nível diferente da paralisia. Leonardo precisa de apoio para andar e faz uso de um andador. Maya é cadeirante e precisa de apoio para as atividades diárias, por não ter controle cervical. Também tem transtorno de déficit de atenção com hiperatividade.
Rafaella anda sem necessitar de apoio. O caçula da família, Gabriel, é cadeirante e tem autismo e epilepsia.
As crianças completam nove anos de idade em 2023 e têm uma infância como a de quaisquer outros meninos e meninas. A dificuldade é com a locomoção. Fazem duas sessões de terapia ocupacional por semana e quatro de fisioterapia, como parte da busca por autonomia.
Separação do então marido
Em 2018, Patrícia se separou do então marido e pai dos quadrigêmeos. Eduarda é fruto de um primeiro relacionamento.
Foi um período difícil, conta. Patrícia se recorda de ter pouca renda para o sustento das crianças, e precisou da ajuda financeira dos pais dela.
Divorciada, com cinco filhos para criar e sem horários disponíveis para trabalhar em um emprego presencial e acompanhar os quadrigêmeos, precisou se adaptar. A internet acabou mostrando o caminho.
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Há cerca de quatro anos, tornou-se uma influenciadora digital. "Uma loja de roupas um dia me perguntou quanto eu cobraria para falar do estabelecimento e respondi que poderiam dar em troca alguma roupa. Comecei a cobrar valores simbólicos e aumentei com o tempo."
O dia a dia é agitado na casa da família no interior de São Paulo. Os quadrigêmeos estudam pela tarde em uma escola municipal, com apoio de um acompanhante pedagógico oferecido pela própria rede.
É quando Patrícia aproveita para trabalhar, gravando e editando as fotos e vídeos de publicidade. Também faz compras no mercado, atividades físicas e limpa a casa, que tem dois andares e não é adaptada.
Pela manhã, Patrícia acompanha as sessões de terapia ocupacional, fisioterapia, hidroterapia e musicoterapia dos quadrigêmeos, que também são acompanhados por fonoaudióloga, psicóloga e psicopedagoga. Parte do atendimento é em casa, via convênio médico - foi preciso buscar a Justiça para conseguir o tratamento pelo convênio.
Ajuda da primogênita
Ela conta com o apoio de uma babá quatro dias na semana, além da valiosa ajuda da primogênita. "Ela amadureceu rápido demais e criou muitas responsabilidades. Ajuda a limpar a casa, preparar a comida, dar banho e brincar com os irmãos. É algo que vem dela. Cuida de todos e já cuidou muito de mim quando precisei ficar em repouso absoluto", conta.
O repouso aconteceu desde o primeiro mês da segunda gestação e durou até o trabalho de parto. Cardíaca, Patrícia teve um deslocamento da placenta. Como a gravidez era de risco, não podia sair da cama nem ir ao banheiro ou tomar banho. Eduarda era quem lhe levava a comida.
Diante da rotina com cinco filhos, Patrícia encontrou no autocuidado uma forma de terapia. Buscou fazer caminhada, exercício físico, se maquiava e fazia hidratação caseira, independentemente da situação.
Com namorado há quatro anos, após os percalços, diz se sentir completa como mãe e como mulher. "Acho que todo mundo imagina, quando se fala 'mãe de quadrigêmeos e mais uma', que é uma mãe acabada, cansada, que não se cuida. O que tento passar para as mulheres é a necessidade de ter um tempo para si mesma, se cuidar", diz.