Jornal Estado de Minas

Cartier é criticada por usar yanomamis em campanha

A conhecida marca francesa de joias de luxo, Cartier, tem enfrentado críticas por utilizar a imagem de crianças Yanomami em seu site sem a devida autorização da liderança indígena. A empresa afirma que trabalha para promover a cultura dos povos indígenas e proteger a Amazônia, onde vivem os Yanomami, abrangendo Brasil e Venezuela. Contudo, o projeto mencionado no site, relacionado à proteção da floresta, nunca foi realizado.





A imagem das crianças Yanomami brincando em um campo verde foi retirada do site da Cartier após contato da Associated Press. A empresa alega não adquirir ouro proveniente de mineração ilegal, mas líderes Yanomami aconselham as pessoas a não comprarem joias de ouro, independentemente de sua origem, uma vez que a demanda pelo metal precioso contribui para a invasão de mineradores em seu território.

Segundo estatísticas brasileiras, entre 2019 e 2022, 570 crianças Yanomami morreram de desnutrição, diarreia e malária, doenças agravadas pela presença de garimpeiros ilegais na região. O mercúrio tóxico utilizado na mineração ilegal também causa defeitos congênitos e destrói ecossistemas.

A Cartier faz parte do conglomerado suíço Richemont, que registrou vendas combinadas de 11 bilhões de euros (US$ 11,7 bilhões) no último ano fiscal. Algumas peças anunciadas no site da empresa nos Estados Unidos chegam a custar até US$ 341 mil.





A relação da Cartier com os Yanomami, que somam cerca de 40 mil pessoas, remonta a 20 anos, principalmente através da Fondation Cartier, uma filantropia corporativa criada e financiada pela empresa em 1984. Apesar de algumas críticas recentes, muitos indígenas e defensores elogiam a promoção das causas Yanomami pela Cartier.

Entretanto, artistas e ativistas, como a francesa Barbara Navarro, acusam a Cartier de praticar 'greenwashing', ou seja, apoiar causas ambientais apenas para melhorar sua imagem. Em sua exposição 'Pas de Cartier', Navarro critica a marca de luxo e a devastação causada pelos garimpeiros ilegais.

A foto das crianças Yanomami no site da Cartier violou o direito ao consentimento prévio, livre e informado dos indígenas, conforme a Convenção 169 sobre Povos Indígenas e Tribais da Organização Internacional do Trabalho, assinada pelo Brasil.

A Cartier não comentou o apelo dos Yanomami para que as pessoas parassem de comprar joias de ouro, mas removeu a foto e a descrição do projeto após ser contatada pela Associated Press. A empresa informou que os recursos foram destinados a um projeto de preservação florestal, mas acabaram sendo usados para adquirir equipamentos médicos para combater a COVID-19 entre os Yanomami, com uma doação no valor de US$ 74,2 mil feita em junho de 2020.