Quando Eduardo viu Tayrone pela primeira vez, em um karaokê, em 2018, ele não poderia adivinhar que, juntos, os dois conseguiriam conquistar mais de um milhão de pessoas nas redes sociais. Em frente às câmeras, o casal dá vida às drags Tatá M. Shady e Olive Oil.
Com muito bom humor, os dois fazem vídeos engraçados especialmente sobre conhecimentos gerais. Com o quadro de maior sucesso do canal, chamado EAD com Dragbox, os dois se estabeleceram como criadores de conteúdo e puderam se mudar para São Paulo.
Neste Dia dos Namorados, o Estado de Minas bateu um papo sobre o relacionamento, o trabalho e o futuro dos dois. Confira a seguir:
O começo de tudo
Se tem algo que possa explicar o começo do namoro de Eduardo e Tayrone é a sorte. Em uma noite, no fim de 2018, o estudante de gastronomia foi a um bar de karaokê, em João Pessoa, na Paraíba. Lá, subiu ao palco um professor de inglês, que cantou uma música da drag RuPaul. Apesar de já ter se interessado pelo cantor amador, ele não fez nenhuma aproximação.
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A verdade é que a mudança foi por conta de um emprego novo. E, a partir daí, começou o romance entre os dois - que só virou um namoro oficialmente após alguns meses.
Naquela época, apenas Tayrone se montava como drag queen, apesar de ainda não ser de forma tão refinada como ele faz hoje no canal. “Eu estava começando a entender o preconceito que as pessoas têm com drag queens, não é um preconceito diretamente. Mas eu começava a conversar com um boy, aí ele via que eu me maquiava e ele não falava com todas as palavras, mas deixava implícito, parava de responder. Então, quando eu conheci a Olive, eu já falei logo. Mandei umas fotos minha montada puxando papo”, revela.
Já em João Pessoa, Eduardo foi se interessando, mexendo nas maquiagens e, assim, surgiu Olive Oil, a maior companheira de Tatá M. Shady. E daí para a criação de um canal do YouTube foi um passo.
Resistência e paciência
Mesmo como um casal, Tatá e Olive contam que o preconceito contra drag queens continua existindo. “A gente percebe que a drag ocupa um espaço que muitas vezes é colocado como apenas entretenimento. Tanto quem esses dias, a gente fez uma publicação expondo uma coisa que acontece no nosso perfil, que toda vez que a gente coloca algum post se beijando, mostrando que a gente é um casal, a gente perde muito mais seguidores do que o normal”, apontou Olive.
Ele ainda ressaltou que há muita resistência por parte de algumas empresas que, mesmo no Mês do Orgulho LGBTQIAP+,não as contratam para fazer publicidades. “A gente sente que tem sim uma resistência do mercado ainda em contratar uma drag, em ter coragem de colocar uma drag na sua campanha para representar a comunidade. Quem sabe um dia isso tudo melhore cada vez mais”, desejou.
Nesse ponto, Tatá pontuou que é importante fazer o máximo em cada ação publicitária para que elas são convidadas. “A gente sempre cresceu devagarinho, a gente nunca ligou para ter velocidade, um crescimento explosivo. A gente vai lutando pouco a pouco e aproveitando as oportunidades que a gente recebe”, acredita.
Outro desafio que o casal enfrenta no dia a dia é o fato de ter que trabalhar diretamente com o parceiro. Ao serem questionadas, as duas riem, como se passasse um filme na cabeça de todos os momentos que enfrentaram. Elas confessam que, no começo, foi muito difícil, especialmente para alinhar as ideias dos vídeos e discordarem uma da outra. “Eu acho que, hoje em dia a gente, já conseguiu - quatro anos já fazendo isso - e, com os erros, você vai entendendo certas coisas que você tem que fazer dessa forma, pensar de outra forma, e a gente foi se ajustando, mas tem alguns momentos que a gente acaba discutindo. Mas, hoje em dia, a gente se resolve muito mais rápido”, afirmou Olive.
Tatá conta que uma das maiores dificuldades é lidar com o ego e não levar para as críticas para o lado pessoal. “A gente não pára mais para discutir os vídeos. É tudo natural porque a gente já sabe o jeito um do outro. É todo um processo, não é nada mágico”, defende. Elas concordam que contaram com a força de vontade de fazer dar certo e viverem do canal.
Quem acompanha os vídeos sabe que Tatá e Olive estão sempre trocando farpas. Tanto que, por conta de tantos comentários, a frase “certeza que as Dragbox brigaram depois deste vídeo” virou uma espécie de piada interna. Mas elas deixam claro que tudo o que acontece durante as gravações não passa de brincadeira e que nunca fizeram um acordo para definir os limites das piadas. “A gente nunca conversou sobre isso diretamente, mas tem muito assim o que for no vídeo é a base da improvisação. A gente sempre brinca muito ali, tudo pelo entretenimento”, conta Tatá.
Olive destacou que não é nada sério, que as briguinhas são só para render no vídeo e fazer o público se divertir: “Se a gente entende que foi uma briga real e que alguém realmente ficou chateado, a gente pede para a nossa editora tirar. A gente não quer ficar brigando em frente às câmeras e deixar um momento desconfortável para quem está assistindo”.
É tudo amor
Quando perguntadas sobre o que mais gostam uma da outra, elas rasgam elogios. Tatá é descrita como uma pessoa de personalidade, muito divertida e que quer deixar todo mundo feliz. Já Olive, uma mãezona, que gosta de cuidar e cozinhar para quem ama. “O bobo da corte e a tia da cozinha”, brincam.
Mas, quando é hora de falar sério, Tatá abre o coração e conta que, antes de Olive, tinha desistido do amor. “Eu nunca imaginei que ia viver tudo isso na minha vida, que eu ia ter um amor. Como homem gay, afeminado, drag queen e fora do padrão”, revela.
Ela também conta que vivia insatisfeita morando no interior, com um trabalho que não a deixava feliz e amigos que foram se afastando. Mas uma frase de uma drag chamada Kim-Chi, do reality ‘RuPaul drag race’ a fez pensar: “As coisas que as pessoas usam para te colocar para baixo vão ser as coisas que as pessoas mais vão amar em você um dia. Eu me achei no entretenimento, me achei com esse amor maravilhoso. E sou feliz demais hoje em dia”.
Assista à entrevista completa com as Dragbox e assista aos vídeos do canal: