No dia 19 de abril, Isadora Belon Albanese, de 18 anos, foi a uma clínica odontológica na cidade de Porto Feliz (SP) para fazer a extração de um dente siso. No dia 23, ela morreu devido a complicações após o procedimento. Com a perda a filha, Grasiela e Ricardo decidiram criar uma página na rede social para conscientizar sobre os riscos da cirurgia e para pedir que se crie um protocolo para esse tipo de atendimento.
Segundo a mãe, Isadora era saudável e não tinha nenhuma comorbidade. A jovem começou a sentir-se mal na noite do dia seguinte à operação, chegando a vomitar de dor. Os pais a levaram para um hospital, onde os médicos viram a necessidade de fazer um procedimento de drenagem, que teve que ser interrompido porque a garota teve uma parada cardíaca.
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Outros casos
Além de Isadora, outros três casos viralizaram nas redes sociais nos últimos meses. No dia 17 de maio, Marina Mesquita Silva, de 23 anos, morreu vítima de uma infecção após extrair o siso. A jovem fez o procedimento uma semana antes e tomou os medicamentos indicados pelo dentista. Logo após a cirurgia, ela começou a sentir dores.
Marina passou três dias no hospital na cidade de Leme (SP), onde morava, com um quadro de celulite facial, que é uma infecção aguda e abscesso dentário pós extração de siso, caracterizado por uma infecção bacteriana que causa acúmulo de pus. A jovem também não respondeu bem ao tratamento e morreu.
Já a estudante universitária Ana Luiza Renosto, de 18 anos, compartilhou no TikTok as complicações que sofreu após uma cirurgia para a retirada de dois dos dentes sisos. Ela ficou seis dias internada para tratar uma infecção e teve seu rosto deformado. A moradora de Pato Branco (PR) conseguiu se recuperar.
Também em maio, José Eliezio Oliveira Silva morreu, em Fortaleza (CE), por complicações depois de realizar o procedimento de retirada de um siso. Segundo a família, o cirurgião não passou nenhum exame ou raio-X antes da operação e tampouco forceceu orientações e medicações para o pós-cirúrgico.
O médico da UPA onde José procurou atendimento disse à família que ele tinha uma bactéria na região do pescoço e infecção generalizada. No atestado de óbito, constam entre as causas abscesso dental e insuficiência renal.
Quais os riscos
O cirurgião buco-maxilo, professor da Faculdade de Odontologia da UFMG e coordenador da especialização em Cirurgia Buco-maxilo-facial da instituição, Evandro Aguiar, é bem claro: o problema não é a extração, mas a infecção no local, chamada pericoronarite, que pode causar problemas.
Ele explica que, antes do procedimento, o profissional precisa analisar o paciente do ponto de vista sistêmico. “O paciente tem que ser observado como um todo, se há infecção no local, qual a dificuldade para extrair o dente, quanto de tecido ósseo vai precisar ser atingido e se há alguma lesão no dente”, aponta.
O especialista também ressalta que a cirurgia não pode ser feita em casos em que há uma infecção pré-existente. Nesses casos, é preciso controlar o problema antes e, só depois, a extração pode ser feita. Caso contrário, há o risco de a infecção se alastrar.
Para identificar a contaminação, o dentista deve observar se há dor no local, sangramentos e até febre. A radiografia ou tomografia também são essenciais antes de realizar o procedimento. “Ele precisa saber como era a saúde do paciente no local e se existe tratamento prévio em relação à infecção. Tanto a extração quanto a não extração podem levar a casos graves. Dentes inclusos, por exemplo, geralmente precisam ser removidos”, explica. Apesar da necessidade do procedimento, não se trata, na maioria das vezes, de uma extração de emergência, sendo possível toda a preparação de uma cirurgia eletiva.
Aguiar pontua ainda que não há motivos para se preocupar com o procedimento: “Complicações graves são bastante raras. Mas também existem profissionais capacitados para lidar com elas, que são os cirurgiões buco-maxilo-facial”, explica.