Esses são os temas de publicações produzidas por delegados de polícia que usam com frequência as redes sociais.
Em São Paulo, a conduta nas redes por policiais civis é regulamentada por uma portaria publicada em julho de 2020. Entre as proibições, agentes não podem divulgar informações sobre investigações ou usar o nome, cargo, brasão, banner ou qualquer outro símbolo oficial da Polícia Civil como forma de identificação pessoal em seus perfis.
Maria Corsato
A delegada Maria Corsato, do 27º DP (Campo Belo), na zona sul de São Paulo, passou a usar o Instagram em setembro do ano passado e conta com cerca de 3.000 seguidores.
Além de posts explicativos sobre o ciclo da violência doméstica e como o bullying pode se tornar uma forma de agressão, ela aproveita a plataforma para dar dicas de português.
Corsato explica que as publicações têm como objetivo evitar que as pessoas sejam vítimas de golpes. "Conhecer a língua é essencial para que as pessoas não caiam em fraudes", diz a delegada, ressaltando que erros de português são uma pista para detectar mensagens de criminosos que se passam por profissionais de grandes empresas ou de serviços.
A delegada afirma ainda que a plataforma pode servir de conscientização da população e, assim, desafogar as demandas das delegacias.
"Para me dedicar a um crime mais grave, preciso ter tempo. Para ter tempo, preciso evitar que as pessoas caiam em crimes que não tenham violência à pessoa. A única forma de fazer isso é com orientação."
Helio Bressan
Há mais tempo nas redes sociais, o delegado Helio Bressan acumula quase um milhão de seguidores e costuma mostrar o rosto nos vídeos para alertar a população sobre golpes. Ao menos dois vídeos tiveram uma repercussão inesperada e foram assistidos por milhões de usuários.
"O Estado paga meu salário. Eu não trabalho de graça. Se eu puder ajudar as pessoas a não serem vítimas, eu vou. É minha função do ponto de vista de segurança pública", diz Bressan, que está há mais de 15 dias sem fazer um post porque busca um conteúdo que já não tenha sido abordado "500 vezes".
Ele conta com uma boa rede de contatos e também pesquisa sobre os assuntos para falar com propriedade. "O objetivo não é aparecer, mostrar que estou aqui e nem que eu sou o bom. É ajudar as pessoas a não serem vítimas. Publicar o óbvio, eu não posto", diz.
Quem cuida da rede social dele é a esposa, que também grava seus vídeos. "Não tenho tempo. Chego na delegacia e tem muita coisa para fazer e, à noite, preciso dar uma dormida."
Além do Instagram, Bressan também costuma mandar diariamente frases em uma lista de transmissão no WhatsApp. Na última terça-feira (25/7), por exemplo, a escolhida foi: "O preconceito põe ódio nos corações".
"É no estilo curto e grosso. Para as pessoas entenderem", explica o delegado. "Quero que as pessoas reflitam. Não quer dizer que é a verdade, mas é para a pessoa pensar."
Raquel Gallinati
Também popular entre as autoridades policiais, a delegada Raquel Gallinati tem cerca de 109 mil seguidores e foi criticada por um usuário ao postar dicas de como evitar furtos dentro do carro.
"A senhora é delegada geral. Sabe os pontos. Tem que atuar. Me desculpe, mas eu teria vergonha de postar isso", escreveu.
Gallinati afirma que, apesar das críticas e dos possíveis riscos da exposição pública, vai continuar usando todas as ferramentas disponíveis para se "aproximar das pessoas, auxiliar, orientar e proteger".
Ela, que também é diretora da Adepol (Associação dos Delegados de Polícia do Brasil), diz ser comum a cobrança de seguidores pela segurança, principalmente em momentos de crise.
Os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado neste mês, indicam uma incidência maior na violência pelo país. O número de estelionatos disparou em 2022, e o Brasil registrou mais de 200 golpes por hora.
No estado de São Paulo, nos seis primeiros meses do governo do Tarcísio de Freitas (Republicanos) houve uma queda de roubos e homicídios, porém as taxas de estupros e furtos subiram, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública.
"É importante lembrar que a segurança não é responsabilidade de um único grupo ou indivíduo, mas sim um esforço coletivo", diz Gallinati. A delegada afirma ainda que o papel de um policial vai além de apenas cumprir a lei e envolve também a educação e prevenção para que as pessoas possam se proteger.
Nas redes, ela não se limita às dicas de segurança. Fala sobre temas como a cracolândia, que admite não ser de simples solução, e defende a internação compulsória. E também costuma denunciar agressões contra policiais durante ações.
Para a delegada, o resultado dos posts nem sempre é imediato ou mensurável, mas se conseguir proteger uma vida com seu conteúdo, "todo o esforço terá valido a pena".
Roberto Monteiro
Com cerca de 37 mil seguidores, o delegado Roberto Monteiro defende o uso das redes sociais como forma de acabar com o estigma de que a autoridade policial é distante.
"O objetivo principal é servir o público", diz ele, que refuta a pecha de "influencer" e se classifica apenas como uma autoridade com bom trânsito de informações.
Monteiro também conta com a ajuda da esposa para as filmagens e, vez ou outra, de alguns policiais quando produz os vídeos na delegacia. "A produção é acessível", diz ele. "Hoje é possível montar um pequeno estúdio sem grandes investimentos, com iluminação e microfone lapela."
Entre os assuntos na sua página, é possível encontrar análises sobre a cracolândia, alertas sobre PCC (Primeiro Comando da Capital), tráfico de drogas e golpes que envolvem bandidos vestidos de policiais.
Porém, ele costuma mesclar os conteúdos pesados com posts sobre seus animais de estimação —ele tem cinco cachorros e dois gatos. Em um deles, apresenta ao público Bento, um dos felinos, e afirma que o pet trouxe mais alegria para o seu lar.
"É bom mostrar que a autoridade é humana. Demonstra que somos mais acessíveis. E ninguém gosta de ouvir sobre assuntos ruins o tempo todo."