Jornal Estado de Minas

INVESTIGAÇÕES

Líder do jogo do bicho estaria envolvido em morte de Marielle, diz delator

Um dos depoimentos do ex-PM Élcio de Queiroz em seu acordo de delação premiada aponta o possível envolvimento de um novo personagem no assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

O novo suspeito é Bernardo Bello, que já é investigado como um dos líderes do jogo do bicho no Rio.





Segundo Élcio, o grupo liderado por Bello teria fornecido tanto o celular utilizado por Ronnie Lessa, apontado como o autor dos disparos contra Marielle e Anderson, quanto o veículo Chevrolet Cobalt prata conduzido pelo próprio ex-PM no dia do crime.

Élcio assinou um acordo de colaboração após a Polícia Federal reforçar as provas de sua participação no crime, como motorista de Lessa – os dois estão presos desde 2019. O crime aconteceu em 14 de março de 2018.


Parte das revelações do ex-PM embasaram a operação Élpis, que prendeu o ex-bombeiro Maxwell Côrrea, apontado como responsável por campanas de monitoramento da vereadora e por atuar após o assassinato na tentativa de destruição de provas.





Segundo a delação, Bello e o chefe de sua segurança, José Carlos Roque Barboza, são suspeitos de terem participado do crime. O primeiro teria dado o celular a Lessa, enquanto o segundo, forneceu o carro.


O Ministério Público e a Polícia Federal ainda investigam as informações fornecidas pelo delator. Neste sábado (29/7), o Disque Denúncia do Rio divulgou um cartaz pedindo mais informações sobre seu paradeiro – ele está foragido e é suspeito de ser o mandante do assassinato de outras pessoas no Rio. A reportagem não conseguiu contato com seu advogado.

A reportagem apurou que Élcio afirmou na colaboração que, após a morte da vereadora, o celular foi destruído por Lessa e o carro, desmanchado com ajuda do próprio ex-PM e de Maxwell.


O delator diz ainda que, depois do assassinato, Lessa não voltou a receber mais nenhum aparelho nem veículo do grupo de Bello.


Élcio havia revelado no outro depoimento o uso por Lessa de um celular "diferenciado". Ele diz ter visto o aparelho uma vez antes do crime e no dia, quando o atirador usou para acessar o mapa durante a perseguição ao carro da vereadora.





"Vou falar posteriormente, encontros casuais, apareceu também celular, que eu achei estranho aquele celular aparecer pra ele. Ele costumava andar com celular de última geração, era um celular feio, mas era um smartphone. E o Ronnie não fala em telefone, só digita. Aí eu perguntei e ele falou que era de uma pessoa que tinha fornecido para ele", disse Élcio, segundo trecho da delação.


No novo depoimento, o ex-PM diz que o celular foi repassado ao atirador por Bello. O aparelho teria sido entregue após a primeira tentativa de cometer o crime, no final de 2017, e tinha como objetivo o manter o contato entre os dois.


Os contatos entre Lessa e Bello eram mediados por Roque e por um outro ex-PM, Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé.


Segundo o delator, a dupla costumava buscar Lessa no Quebra-Mar, na Barra da Tijuca, para levá-lo à casa do bicheiro, no mesmo bairro. Para isso, usavam um Corolla branco.


Élcio conta na delação que viu o amigo ser buscado pelos dois pelo menos quatro vezes nos meses que antecederam a primeira tentativa de assassinato da vereadora, que aconteceu no fim de 2017. Com a ofensiva frustrada, Bello teria dado o celular a Lessa para que tivessem uma comunicação mais direta, segundo apontam as investigações.





Lessa, Élcio e outros envolvidos tinham costume de frequentar a região conhecida como Quebra-Mar, na Barra da Tijuca.

Macalé, assassinado em 2020, é apontado em outras investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro como integrante do grupo de Bello.


Já era sabido que Élcio apontou Macalé como quem trouxe o "trabalho", no caso o assassinato, para Lessa. Ele também teria participado, como motorista, da primeira tentativa de matar Marielle, ainda em 2017.


Segundo o ex-PM, Lessa culpou Macalé por não ter conseguido assassinar a vereadora nessa primeira tentativa. Por isso, decidiu chamar o Élcio na segunda ofensiva.


Macalé é apontado como integrante do braço armado do grupo de Bello em investigações sobre a morte de rivais da contravenção e em atentados envolvendo a disputa interna que mantêm com os herdeiros do bicheiro Waldemir Paes Garcia, o Maninho.





Ex-genro de Maninho, Bello teria rompido com a família Garcia e é suspeito de ser o mandante da morte do irmão do bicheiro, Alcebíades Paes Garcia, o Bid – morto em 2020. Ele também é suspeito de tentar matar Shanna Harrouche Garcia, sua ex-cunhada.


Bello chegou a ser preso na Colômbia, em janeiro de 2022 no processo em que é apontado como o mandante do assassinato de Bid. Ele foi solto após uma decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) em junho do ano passado.


Na quinta-feira (27), Bello foi alvo de um novo mandado de prisão sob suspeita de ter mandado matar um advogado em Niterói, em maio de 2022. Segundo o Ministério Público, Carlos Daniel Dias André se tornou alvo do bicheiro após um conflito mediado pelo advogado.