A pandemia de Covid-19 reduziu diretamente a quantidade de passageiros no transporte coletivo e fez crescer o número de cidades que pagam subsídios, ou seja, injetam dinheiro público nas empresas de ônibus urbanos quando a tarifa paga pelos passageiros é considerada insuficiente para custear o sistema.
Segundo estudo da CNT (Confederação Nacional dos Transportes), divulgado nesta terça-feira (8/8), antes da crise sanitária, 25 sistemas de ônibus urbanos tinham subsídios, número que foi ampliado para 63 até julho de 2023, passando de 132 para 163 cidades atendidas.
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O estudo mostra que houve uma queda de 32,6% no número de viagens entre 2019 (pré-pandemia) e 2021. A tarifa na cidade de São Paulo, por exemplo, está congelada em R$ 4,40 desde 2020.
O subsídio pago pela prefeitura às empresas de ônibus para compensar prejuízos com tarifa e algumas gratuidades disparou no ano passado. Segundo relatório anual da SPTrans, estatal que gerencia o transporte público municipal na capital paulista, pouco mais de R$ 5,1 bilhões saíram dos cofres públicos em 2022.
No ano anterior, de acordo com o documento, o recurso foi de pouco mais de R$ 3,4 bilhões —em cifras sem atualização pela inflação.
A Pesquisa CNT Perfil Empresarial 2023 - Transporte Rodoviário Urbano de Passageiros, que contou com apoio da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), foi realizada por meio de questionário estruturado em entrevista por telefone, email e formulário eletrônico, entre 3 de abril a 12 de maio de 2023.
Ao final, 174 entrevistas acabaram validadas. A margem de erro dos dados é de 5,5 pontos percentuais, com 95% de nível de confiança. De acordo com o estudo, o setor conta com 1.577 empresas de ônibus urbanos em operação no Brasil e, aproximadamente, 107 mil ônibus.
O trabalho, de 128 páginas, explica que o ônibus responde por aproximadamente 90% do transporte coletivo do país.
"A pesquisa mostra as principais características, dificuldades e benefícios prestados pelas empresas do transporte rodoviário urbano de passageiros em todo o país", afirma Bruno Batista, diretor-executivo da CNT.
"Esse serviço vem sofrendo com atuações concorrentes de empresas irregulares, aumento da violência, falta de priorização no espaço urbano e forte elevação de custos. Ainda assim, movimenta milhões de passageiros todos os dias, gera milhares de empregos e contribui significativamente para o desenvolvimento do Brasil", completa.
O relatório faz uma espécie de radiografia da gestão das concessionárias. O documento mostra, entre outros, que as empresas de grande porte, ou seja, com mais de cem funcionários, são maioria no segmento e representam 82,2% do total.
A origem familiar do negócio é constatada em pouco mais da metade das empresas (59,8%) e 56,9% delas consideram a dificuldade em reajustar o valor das tarifas como principal problema. O estudo ainda aborda a violência.
Das empresas entrevistadas, 59,2% disseram ter sido vítimas de assaltos no último ano. Também ao serem questionadas, 40,2% afirmaram que no mesmo período sofreram depredações e 20,1% tiveram veículos incendiados.
A falta de segurança pública é apontada no estudo entre os fatores que sobrecarregam os custos do transporte público.
" são alguns exemplos de custos que oneram o serviço, mas não estão sob a influência da gestão operacional das empresas", aponta o documento, que cita que 81,6% das concessionárias entrevistadas têm câmeras no interior dos coletivos.
Ao todo, 90,2% das concessionários afirmaram ter veículos que circulam sem cobradores (60,5% adotam esse modelo em toda a frota). O documento lembra que essa é uma realidade que vem sendo adotada por diversas cidades nas últimas décadas, motivada pela adesão de passageiros a meios eletrônicos de pagamentos.
Nas entrevistas, 91,4% das empresas informaram disponibilizar sistema de bilhetagem eletrônica para pagamento de tarifa.
O estudo diz que a retirada do cobrador, além de proporcionar maior segurança à operação, pois desestimula o pagamento em dinheiro, reduz a probabilidade de assaltos e gera maior agilidade nos processos de embarque e desembarque.
Mesmo assim, atraso é apontado como maior queixa de usuários. Apesar de gerar cerca de 315 mil empregos diretos, o setor demitiu mais de 90 mil pessoas, apenas entre 2020 e 2021.
Nas ruas, são vistos mais modelos básicos de ônibus (34,6%) e há frota é bem rodada — a maioria dos modelos tem mais de sete anos de vida, em média. Em tempos de eletrificação dos veículos nas ruas, 99,89% dos ônibus que rodam pelo país são movidos a diesel. A parcela de elétricos é de 0,04%, a mesma dos híbridos.
De acordo com as empresas, 67,8% disseram não usar corredores exclusivos — apenas 6,3% rodam mais de 20% nestas faixas apenas para ônibus.
"Esses resultados reforçam a necessidade de implementação de políticas mais abrangentes de priorização do sistema de transporte público coletivo no Brasil", afirma o relatório.