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Brasileira é chamada de 'preta burra' por dono de restaurante em Portugal

Uma carioca que está há quatro meses em Portugal, onde entrou como turista, não esconde a decepção com a realidade que encontrou no país que ela acreditava ser o local ideal para melhorar de vida. Com um filho menor, ela largou tudo no Rio de Janeiro para arrumar um trabalho em terras lusitanas.





Não foi difícil para ela, que prefere se manter no anonimato, conseguir um emprego em um restaurante em Setúbal, cidade a 50 quilômetros de Lisboa, com algumas das mais belas praias portuguesas. Ficou bastante feliz por ter garantido um fonte de renda, mesmo sendo uma trabalhadora na informalidade.

A felicidade com que ia para o trabalho não demorou, porém, para se transformar em decepção. Em poucos dias, ela percebeu quem, na verdade, era o dono do restaurante que havia lhe estendido a mão. “Um português preconceituoso, que usa o fato de seus empregados estarem em situação irregular no país para humilhá-los e explorá-los“, diz a brasileira.
 
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Ódio e preconceito


Ela relata que os mais agredidos pelo dono do restaurante são os negros, em particular, as mulheres negras. Há uma caboverdiana entre os empregados que chora todos os dias. O português não se cansa de chamá-la de “preta burra”. A mulher se sujeita às agressões porque precisa levar dinheiro para casa.




 
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A brasileira se diz indignada com o comportamento do patrão. “Fico com ódio. Sou branca, mas sofro o preconceito de ser imigrante. Com os negros, é muito pior”, comenta. Ela espera que, tão logo consiga regularizar sua situação, possa abrir mão do atual emprego e obter uma vaga em uma empresa que pelo menos respeite a dignidade humana.

Para a carioca, o governo de Portugal tem facilitado muito a entrada de imigrantes no país devido à grande necessidade de mão de obra. O problema é que a burocracia do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), órgão que deveria auxiliar os trabalhadores que vêm de fora, dificulta a vida de todos, abrindo espaço para a exploração daqueles que estão indocumentados.
 
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Golpistas em ação


Mudar de um país para o outro requer muito cuidado e planejamento. Há, inclusive, a possibilidade de se tirar vistos temporários de trabalho nos consulados de Portugal no Brasil, com validade de 90 dias, podendo ser renovados por mais 90. De posse dessa autorização, é possível procurar um emprego digno, legal, com registro e contribuições à Receita Federal e à Segurança Social (Previdência).





O advogado Bruno Gutman diz que muitos dos brasileiros que se mudam para Portugal acabam caindo no conto de influencers e de pessoas que se passam por advogados. Esses golpistas vendem facilidades e entregam prejuízos e transtornos de todos os tipos. São especialistas em se alimentar do sonho de imigrantes que lutam por uma vida melhor.

Gutman já fez quase 20 denúncias contra esses golpistas à Ordem dos Advogados de Portugal e ao Ministério Público. Vários processos estão em andamento. Para o advogado, um planejamento adequado, com o auxílio de profissionais capacitados, pode facilitar muito a vida dos brasileiros que desejam se mudar para Portugal.

Há, sim, boas oportunidades no país europeu, mas, também, muitas armadilhas. Nos últimos anos, tudo ficou muito caro em Portugal, sobretudo, a moradia. O aluguel de um quarto em Lisboa não sai por menos de 700 euros (R$ 3.850) por mês, praticamente o salário mínimo bruto, de 760 euros (R$ 4.180). Quem se submeter a pagar um aluguel nesse valor não terá sequer dinheiro para comer.