Apenas 1 dos 6 itens questionados a 2.016 pessoas na terça (12) e quarta (13) registrou uma resposta em que o viés positivo superou o negativo. Se disseram mais tranquilos em relação à situação brasileira 50% dos ouvidos, enquanto 45% afirmaram sentir raiva.
A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Em comparações com rodadas anteriores envolvendo as mesmas perguntas, o brasileiro está menos negativo do que uma semana antes da eleição que levou Jair Bolsonaro (PL) ao poder em 2018, durante o turbulento governo de Michel Temer (MDB).
Mas os dados atuais não servem para alimentar discursos da militância que apoia Luiz Inácio Lula da Silva, que sempre apontou Bolsonaro, a quem o petista derrotou em 2022, como um foco de agressividade e sentimentos negativos.Em comparação com a última pesquisa feita na gestão Bolsonaro, em maio de 2020, sob o impacto da pandemia da Covid-19, os sentimentos dos brasileiros no máximo oscilaram dentro da margem de erro —e, no caso do binômio raiva/tranquilidade, com um cenário pior em termos de sentimento.
Se diziam tranquilos então 52% dos brasileiros, número que em 2018 era de 27%. Já declaravam raiva 42%, ante 68% na véspera da eleição em que Bolsonaro encarnou a figura de "outsider" antipolítico em meio à terra arrasada da Operação Lava Jato, das dificuldades políticas de Temer e dos anos de recessão sob Dilma Rousseff (PT).
Pior para Lula agora, o sentimento do brasileiro não acompanha seus slogans. Tome-se o mote de campanha recauchutado de 1989 ("Sem medo de ser feliz"): hoje, 36% se dizem felizes, enquanto 61% declaram tristeza com o país. Em 2018, a proporção era pior, 18% e 79%, respectivamente, mas os números são semelhantes aos de 2020, 34% e 63%.
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O mesmo vale para os temas em torno de esperança e medo, que remontam à campanha vitoriosa de Lula em 2022 ("A esperança vai vencer o medo"). Dizem ter mais medo do que esperança 55% dos ouvidos, um salto ante os 46% de 2020, ainda que inferior aos 59% de 2018. Já declaram o contrário 44% (eram 40% em 2020 e 53%, em 2022).
Na mesma linha, afirmam ter medo do futuro 61%, mais que os 57% da rodada anterior, igualando ao nível de 2018 (62%). Já aqueles que dizem ter confiança no futuro ao pensar no Brasil são agora 38%, oscilação negativa dentro da margem ante os 41% de 2020, e positiva comparada aos 36% de 2018.
No levantamento atual, os mesmos números são encontrados entre aqueles que se dizem desanimados (61%) e animados (38%), em situação de empate técnico com 2018 (59% e 39%, respectivamente), mas menos negativo do que em 2018 (78% e 21%).
O quesito de maior insatisfação é o da segurança em relação ao país. Se dizem inseguros hoje 71% dos ouvidos pelo Datafolha, mesmo nível de 2020 (69%). Eram 88% há cinco anos. Já declaram segurança 29%, ante 30% há três anos e 11%, em 2018.
Esse dado anda de mão dada com os 17% de menções espontâneas feitas à violência como o maior problema do Brasil. O índice era de 6% em dezembro de 2022, mais recente pesquisa com essa pergunta.
Com isso, o item empata com a saúde pública no topo do ranking de problemas brasileiros apontados pelos entrevistados. Na rodada anterior, saúde tinha 21%.
É apenas a terceira vez desde 2011, quando o Datafolha começou a fazer essas perguntas, que segurança empata e saúde encimam a listagem. As outras foram em setembro de 2018 (23% para saúde, 20% para educação) e julho de 2019 (19% violência, 18% saúde).
Agora, seguem como preocupações educação (11%), desemprego (9%), economia (8%), corrupção (6%) e miséria (6%) —este último ponto, foco central do discurso de campanha de Lula e de ações como a volta de um Bolsa Família aumentado, caiu seis pontos em relação a dezembro como preocupação.
A esta altura do mandato de Bolsonaro, em 2019, saúde também liderada a lista, com 18%, seguida por educação (15%), desemprego (15%), violência (11%), corrupção (9%) e economia (8%).
Esses dados, claro, refletem o espírito do tempo e questões objetivas.
A preocupação com saúde pública subiu para 30% após a eclosão da pandemia, no levantamento de dezembro de 2020, por exemplo. E a corrupção liderava as preocupações nos anos de noticiário coalhado de revelações da Operação Lava Jato: marcava 37% das menções em março de 2016, um mês antes de Dilma ser afastada do cargo para sofrer o processo de impeachment.