Jornal Estado de Minas

A maré tá pra peixe

Fazenda Pacu, em Inhaúma (MG), se estruturou para receber grupos de pesca e sediar encontro dos amantes da atividade de todo o país. E, ainda, para quem quiser levar crianças, oferece entretenimento aos pequenos - Foto: Luís Henrique/Divulgação

Se, em alguns setores da economia, o mar não está pra peixe, como diz o velho ditado, o setor de pesca esportiva vem ganhando espaços ao ponto de, a cada 15 dias, um novo produto chegar ao mercado. A figura do velho “pescador de barranco”, aquele que passa horas com sua varinha de bambu e linha 0.25, ainda persiste, mas as pescarias regadas a bebidas e farras vão cada vez mais cedendo espaço a reuniões familiares à beira de lagos artificias.
 
E o que antes era considerada atividade masculina vai ganhando adeptas profissionalizadas com amplo conhecimento de técnicas e equipamentos. “O convite para pescar vinha sempre do pai, marido ou avô. Hoje, as mulheres têm em sua lista de entretenimento próprio e de sua família a pesca esportiva”, constata o pescador dos velhos tempos e sócio-proprietário das lojas New Pesca, Maurício Miranda Teodoro, de 61 anos. “O interessante é que, quando se pensava em homenagear um homem em seu aniversário, no Dia dos Pais ou no Natal, o primeiro pensamento eram as roupas, seguidas de produtos eletrônicos. Atualmente, equipamentos e acessórios de pesca esportiva estão ganhando posições nessas listas de presentes”, constata.
 
A atividade é responsável por movimentar uma cadeia que vai das fábricas, comércio, hotéis e pousadas e chega aos promotores de eventos do segmento. O exemplo vem de um jovem de 28 anos, que resolveu utilizar seus conhecimentos em informática e redes sociais e cair de braçada na indústria de entretenimento pesqueiro. Luís Henrique da Silva Carvalho trabalhava com informática e pescava com amigos por lazer, até que resolveu, há 4 anos, em sociedade com um amigo, criar um grupo, o Pescaesportiva.br.
A atração de outras pessoas foi quase imediata. Ele passou a pesquisar e percebeu que a pesca esportiva ganhava adeptos por todos os cantos do país e era um mercado promissor. Os sócios resolveram então realizar um encontro de pescadores na Fazenda Pacu, no município de Inhaúma, no Colar Metropolitano de BH, e Região Central do estado, a 100 quilômetros da capital.
 
Esse primeiro encontro reuniu 17 pessoas. No ano seguinte, foram mais de 100 participantes. E o crescimento de procura foi cada vez maior: “Grandes e famosos pescadores passaram a encaminhar vídeos e nos contatar”, conta o empreendedor. Há dois anos, surgiu, de uma brincadeira, o personagem nas redes sociais “É o Lui(s) que tá falando e não É o Lui(z) que tá falando!”. “Foi aí que vi nisso uma forma de sobrevivência e passei a criar eventos periódicos, que ocorrem pelo menos uma vez por mês.” Hoje, seus grupos em redes sociais contam com mais de 12 mil seguidores de todo o Brasil.

REGULAMENTO A preservação de peixes também foi um apelo para que o esporte ganhasse cada vez mais adeptos.
“O pescador esportivo come peixe, mas somente aqueles que estão dentro da medida exigida. Todo pescador precisa ter carteira de pesca amadora, emitida pelo Instituto Estadual de Floresta (IEF), responsável por informar sobre as medidas a serem respeitadas. Sempre há alertas de quando se pega um 'trofeuzão', que é peixe muito grande – um dourado de 15 quilos, por exemplo, já é muito adulto, a carne dele já não é saborosa. Então, a idade deve ser respeitada. Quando é muito adulto não serve para comer, e sim para reproduzir. Nesse caso, pega-se o peixe, mostra-se o troféu, fotografa, registra e solta-o na água. Hoje, temos anzol sem farpa, que não machuca o peixe. Em pesqueiros, uma pessoa pega um peixe hoje e daqui a um mês outra pessoa pega o mesmo animal, saudável.
A pesca esportiva evita a mortandade de peixes”, explica.
 
Os eventos ocorrem geralmente em pousadas e hotéis que têm estrutura de hospedagem. Na Pousada Pacu, estão inclusos no pacote café da manhã, almoço, tira-gosto, café da tarde e jantar. Tudo, excluindo bebidas, a R$ 175 pelos dois dias, em média, por pessoa. Tem fazendinha para as crianças conhecerem os animais e as lagoas de pesca.
 
Quem se interessar em participar pode entrar em contato para solucionar dúvidas, como recomendação de tipos de materiais. “Muita gente confunde materiais de rio e de pesqueiro. No rio, podem-se usar varas pequenas, de 1,65cm ou 1,50cm. Em pesqueiros, as varas são mais longas, de 2,70cm, e têm de ser mais fortes. Tem peixes de mais de 30 quilos e meu recorde é um tambacu de 32 quilos. Para esse tipo de pesca é preciso carretilha ou molinete que caibam boa quantidade de linha, anzóis sem farpa apropriados para pesca esportiva, para não machucar o animal. Chicote transparente para fazer a pesca, impedindo que o peixe veja a linha.
Boia e cevadeira para colocar a ração.”
 
O investimento, segundo Luís Henrique, foi praticamente em divulgação, “sem qualquer gasto”, já que utilizou seus conhecimentos em informática e redes sociais. “Sobrevivo totalmente da pesca esportiva”, afirma. Ele realiza eventos em diversas cidades de Minas e outros estados. Quem é marinheiro de primeira viagem tem direito a instrução sobre técnicas e equipamentos mais adequados. A Fazenda Pacu aluga equipamentos completos.
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