É lamentável e preocupante constatar que a cada três horas e meia um brasileiro morre vítima de acidente de trabalho. Os dados do Ministério da Previdência Social mostram fragilidades que precisam ser corrigidas imediatamente. No ranking mundial de acidentalidade laboral, ocupamos o quarto lugar, atrás apenas da China, dos EUA e da Rússia. Não é uma realidade de agora; há anos, nada é feito!. No entanto, o tema não é debatido com a constância e a importância necessárias.
Orçamentos enxutos e prazos apertados são fatores que se impõem e matam inocentes, destroem famílias, principalmente nos setores da agropecuária, da indústria e de serviços. Em grande parte das empresas, nota-se baixo investimento em tecnologia voltada para a prevenção. Funcionários são obrigados a manusear máquinas e equipamentos sucateados, entre outras coisas. Os profissionais ligados às áreas de prevenção necessitam passar por contínua qualificação, o que nem sempre ocorre. Nas companhias, vê-se que a sensação de impunidade não é algo distante, pelo contrário: como o número de fiscais não atende à demanda das cidades, elas preferem trabalhar com o denominado risco controlado.
Os programas de segurança do trabalho são importantes à medida que criam diretrizes de controle, desenvolvem uma nova cultura – pelo hábito e pelo exemplo – nas corporações e repercutem em pilares cruciais da sociedade, como a diminuição dos custos anuais com a Previdência Social e aplicação de capital em outras áreas essenciais. Eles, porém, ainda são vistos como custos e não como investimentos. As boas empresas executam as normas previstas em lei (que, se não cumpridas podem gerar multas e situações desagradáveis) e enxergam que para cada real destinado à prevenção de acidentes e promoção da saúde do trabalhador há um retorno três vezes maior. Excelente negócio, não? É só analisar as despesas associadas a lesões e doenças relacionadas a acidentes de trabalho: pensões por afastamentos, multas, além da ausência de um profissional.
É certo que temos muito a avançar. Não é raro presenciar situações em que o técnico de segurança do trabalho é tachado de chato, contraprodutivo e outros termos afins. Isso ocorre porque, ao verificar anormalidades, ele pode interditar ou suspender as atividades. Em um mundo acelerado e de entregas rápidas de resultados, essa atitude pode ser vista como um entrave para a produção.
O funcionário, por sua vez, tem papel essencial no que diz respeito à observância aos princípios da legislação brasileira. Certos equipamentos podem não ser tão bonitos e requerer tempo de adaptação, mas não há escolha: a obrigatoriedade deve ser respeitada. E cobrada. Infelizmente, não raras vezes trabalhadores se submetem às mais precárias condições de trabalho, em cenários de escassa proteção.
Pesquisas feitas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que cerca de 96% de todos os acidentes de trabalho poderiam ter sido evitados. Embora as condições do ambiente mudem com o tempo, o que acaba dificultando a identificação e o controle dos riscos, os esforços para a manutenção do local de trabalho seguro devem ser contínuos e rigorosos. É tempo de superar visões passadas e de colocar a segurança em um lugar inegociável. Cada vida vale muito!