Se eu pudesse falar pela cidade de BH hoje, diria que estamos de luto. Mais que isso, diria que o que restou é menos que a metade, é um estopo de uma cidade meio em choque, vivendo o conflito interno de vários assassinatos, sem um assassino declarado.
E o pior, estamos falando de um assassino em série, daqueles que esperam pela chuva forte para aparecer. E a população, por sua vez, fica na incerteza de segurança e na certeza de que basta começar a chover forte que esse assassino sem rosto definido volta a aparecer, e vai morrer mais gente.
É bizarro porque, organizando esses sentimentos no papel, fica parecendo o roteiro de um ótimo filme de suspense, ou então, um daqueles romances policiais da Agatha Christie, que não sabemos ao certo quem vai morrer, mas já sabemos que vai morrer. E aí é só aguardar, com a tensão à flor da pele. Mas a única coisa que nos resta é seguir o enredo e aguardar.
O que mais assusta de tudo isso é que os personagens somos nós. Sim, é isso mesmo. Não estudamos teatro, não fizemos inscrição para participar e menos ainda teste de aptidão. Mas fomos convocados. E o enredo dessa história parece um daqueles romances do Nicholas Spark, com o final sempre trágico.
Recentemente, assistindo ao noticiário da noite, levei um choque com a matéria sobre um garoto de 17 anos internado com múltiplas fraturas na cabeça, após ser gravemente agredido por um colega dentro da escola. O agressor, que também é estudante, carregava um extenso histórico de agressividade com outros colegas e professores. Ou seja, já era uma tragédia anunciada, já que ele morreu.
Aí começo a me perguntar: mas, e se o agressor tivesse um acompanhamento psicológico desde a primeira agressão, afinal, não são mais de 30 ocorrências? Será que não dava para recuperar esse jovem? E se ele não aceitasse ajuda, por que as medidas administrativas não foram adotadas? Afinal, não foram mais de 30 ocorrências? Tinha que esperar outro jovem ficar entre a vida e a morte, e acabar morrendo, pra todo mundo perceber que foram mais de 30 ocorrências?
E agora, a pergunta correta é: quem é o responsável ou quem são os responsáveis?.
Mal me recuperei desse choque, e dei uma olhadinha pela janela. Percebi que o tempo começou a fechar, já pensei: “Iiiih, hoje vai chover, e muito”. Pronto, bastaram algumas horas para mais tragédias. Mais uma vez, colocando no papel fica até poético a história de mãe e filha que morreram afogadas, abraçadas e com o terço na mão.
Ou então, o bombeiro que não consegue salvar a garota de 17 anos, e tem que assistir a ela ser arrastada para dentro de um bueiro. Tem também a equipe do Corpo de Bombeiros que teve que receber atendimentos médicos porque, no meio de todo esse caos, foi atrás da garota no bueiro e, mesmo assim, não a encontrou.
Só não é nada poético ter que explicar para a família dessas pessoas que o Natal deste ano não tem alegria. Que pra morte não tem a solução e pra essa tragédia não tem volta. A partir de agora, vão ter que conviver com esse vazio e com a incerteza de não saber quando será e quem será a próxima vitima.
Mais uma vez, me pergunto: e agora, de quem é a culpa? Quem vai ser o rosto desse assassino? Porque sim, foram assassinatos. Só é acidente quando não dá pra prever. Está lá no dicionário, é só olhar. E essa historia do “serial killer da chuva” já virou uma best série em Belo Horizonte.
Só sei de uma coisa: infelizmente, essa série não acabou e parece estar longe do fim.