Uma doença que vem chamando a atenção dos profissionais da saúde e da sociedade é a mielomeningocele, caracterizada pela malformação congênita dos ossos da coluna e medula espinhal da criança. Esse fato tem em vista o sucesso dos procedimentos cirúrgicos recentes e a maior divulgação do seu tratamento e excelentes resultados. Embora não haja estudos sobre a sua incidência, dados oficiais estimam que nasça no Brasil uma em cada 1.000 crianças com essa patologia.
A milelomeningocele é uma doença que acomete o bebê em formação. Ela pode ser devastadora se não for tratada a tempo e adequadamente, pois pode causar danos irreparáveis nos nervos da coluna da criança, impossibilitando-a ou dificultando-a em desenvolver funções corriqueiras, como controlar a urina e os esfíncteres, caminhar, correr ou manter-se de pé sem ajuda de órteses e próteses. Além disso, a lesão observada na coluna acarreta, na maior parte das crianças não tratadas, o acúmulo de líquido dentro do cérebro (líquor), que implica aumento da pressão e no tamanho do crânio, também chamado hidrocefalia, que, consequentemente, pode afetar as funções neurológicas, culminando com o atraso no desenvolvimento neurológico, psíquico e motor da criança.
Compreendendo a doença: com sete semanas de gestação, ocorre o fechamento do sistema nervoso e da coluna do bebê. Naqueles que são diagnosticados com mielomeningocele, esse processo não ocorre naturalmente e os nervos ficam expostos. A má-formação ocorre na região lombar e essa abertura na coluna pode comprometer o desenvolvimento psicomotor da criança ao longo de toda a vida. A exposição das raízes nervosas do bebê faz com que o líquido produzido no cérebro extravase pelo orifício da medula, o que reduz a pressão intracraniana da criança. Sem correção, a doença pode levar a casos de hidrocefalia, má-formação de nervos e neurônios e problemas locomotores variados. Existe, ainda, o risco de dificuldades na bexiga e intestino.
Geralmente, a cirurgia, baseada na "técnica de Peralta", é realizada entre a 19ª e a 26ª semanas da gestação, quando o cérebro está em processo de formação. Assim, reduz-se o risco de complicações maternas, sendo possível prolongar a gravidez até aproximadamente a 37ª semana. O procedimento também impede que os danos iniciais se agravem, já que o líquido amniótico tem uma ação corrosiva sobre os nervos expostos, A mielomeningocele é a única má-formação fetal não letal, que tem indicação de cirurgia intrauterina, realizada antes do nascimento do bebê.
As causas da patologia são multifatoriais, isto é, são provocadas por fatores diversos, tais como predisposição genética, deficiência do ácido fólico, tratamento recente com quimioterápicos, uso de anticonvulsivantes, obesidade materna, diabetes materno não controlado no momento da gravidez, e hipertermia (febre, sauna, banho termal). A combinação desses fatores pode desencadear um mau fechamento da coluna no momento da formação do embrião durante a gravidez, quando a mãe nem suspeita estar grávida. Por essa razão, toda mulher que planeja engravidar deve procurar um especialista em ginecologia e obstetrícia para realizar um aconselhamento pré-concepcional e iniciar o uso de ácido fólico pelo menos dois meses antes de tentar engravidar.
A principal maneira de diagnosticar a doença é a ultrassonografia, realizada por profissional capacitado a avaliar adequadamente o sistema neurológico do bebê. Um profissional especialista em medicina fetal tem a capacidade de detectar a doença no momento do exame de translucência nucal, que deve ser feito entre a 11ª e a 14ª semanas de gestação. Mas a maioria dos diagnósticos é realizada tardiamente, impossibilitando o tratamento ainda dentro do útero.
O sucesso do tratamento da mielomeningocele tem vários motivos. Um deles é a sua equipe médica. É importante que seja uma equipe muito especial, formada por profissionais altamente qualificados, de diversas áreas de conhecimento e que atuam juntos para promover um trabalho muito delicado e complexo, que começa com o diagnóstico e vai até após o nascimento.