Para amenizar a vida, quebrar a rotina de crises, violências, traições de políticos, restaurar energias perdidas no corre-corre de todos os dias, a Hanami, ou Festa das Cerejeiras (sakuras, em japonês), sábado, no paradisíaco Morro do Chapéu, foi perfeita e das mais bonitas ali já realizadas. E das mais prestigiadas em participantes. Toda a comunidade daquele condomínio, acrescida de parentes e amigos, não deixou espaço vazio no extenso gramado do Parque das Cerejeiras. Nem vaga para estacionar carros em todo o entorno. As toalhas, os tapetes, os lençóis estendidos sobre os canteiros abrigavam adultos e crianças. Estas, as que mais aproveitaram e se divertiram na manhã e tarde fria de inverno. O azul sem nuvens do céu, lá nos 1.500 metros de altitude da montanha coberta de árvores e das flores cor-de-rosa das sakuras, emoldurava tudo com beleza e harmonia.
Haruji Miura, o introdutor das cerejeiras em Minas, autêntico e respeitado imperador do meio ambiente, conseguiu comemorar a árvore símbolo de seu país no melhor estilo nipônico: alegre nas canções, suave nas danças das bonitas japonesinhas, ou descendentes, todas sorrindo, todas com aqueles passinhos curtinhos, bem femininos, seus olhinhos puxados, suas sombrinhas tradicionais e seus coloridos e austeros trajes típicos. Fantástico em harmonia, também, o taiko, a apresentação dos tambores de todos os tamanhos – grandes, médios, pequenos, uma tradição japonesa, no batimento cadenciado feito por jovens orientais, alguns e algumas quase crianças.
Barracas ofereciam comidas e bebidas típicas, entre estas uma cerveja com o nome do ilustre morador daquele condomínio, a "Miura – Cerejeira", servida em canecões enormes. Outras vendiam cerâmicas, louças, trajes orientais, sombrinhas e bonés fabricados no Japão. E ofereciam shodô, arte da caligrafia, caricaturas de mangá/origami, e mudas da árvore homenageada.
Enfim, sucesso total e absoluto a festa organizada pelo imperador Miura. Realizada pela segunda vez, será reeditada todos os anos, entre o inverno e a primavera, quando os termômetros do Morro do Chapéu marcam 10 graus nos fins de tarde, 2 a 4 graus de madrugada, quando as cerejeiras, milhares delas, plantadas por ele no parque, nas praças, nas largas ruas e avenidas, no maior e mais bonito campo de golfe do estado, nos jardins e pomares das casas, explodem em floração cor-de-rosa. Um espetáculo fantástico de uma natureza privilegiada.
A reforma, o golpe
Da tranquilizante Hanami ("contemplar as flores", ensina mestre Haruji Miura), retornamos ao inferno astral do dia a dia de nosso convulsionado país. Que não se livrou, ainda, passado quase meio ano, do vaivém da já cansativa espera da reforma da Previdência. Nem dela se livrará, pois será difícil sua aprovação em agosto, como anunciado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que já havia prometido entregá-la ao Senado, pronta e acabada, no primeiro semestre. Como este veterano observador da política e dos políticos previu, e falou sozinho, não entregou. Ficou, confirmando nosso prognóstico, para o segundo semestre. Agosto, setembro, outubro? Quem pode prever, pois sujeita a mudanças, a novos turnos e returnos.
Para complicar mais ainda, e comprovar sua notória falta de sintonia com Bolsonaro, o Sr. Maia, em entrevista, desancou o presidente, segundo ele preocupado apenas com as grandes e ricas corporações, e omisso no acompanhamento da reforma no Congresso. Reforma que Bolsonaro, e não Maia, mandou fazer, que foi elaborada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e sua equipe. O jovem deputado quer assumir as glórias e recolher as vantagens políticas de obra que não executou.
Com amigos assim, inimigos não fazem falta ao exageradamente comunicativo presidente Bolsonaro, traído mais uma vez em sua aparente boa-fé. Digo aparente porque ele, esperto e inteligente, pode estar usando aquele recurso, fingir que não percebe a traição, para alcançar o que deseja, a aprovação, mesmo que demorada, da nova Previdência, que vai destravar a economia e deslanchar o seu governo.
Vale alertar: deputados e senadores estariam preparando o que se usa chamar de "golpe branco", para assumir o poder. O plano: emenda constitucional instituiria no país o regime semiparlamentar. O governo passaria a ser dirigido pelo "chefe de Estado", um parlamentar, ou seja, Rodrigo Maia. O atual presidente seria mantido no cargo, mas perderia quase todos os poderes que lhe são assegurados no regime presidencialista.
Pergunta: o povo, os eleitores, os brasileiros aceitariam a nova ordem? A mudança seria submetida a plebiscito? O STF aprovaria o novo regime? Ou tudo não passa de conversa de bastidores, de futricas de comadres desocupadas, de boatos, de fake news, com o objetivo de tumultuar ainda mais o ambiente político?. Na dúvida, o melhor, como diziam os mineiros de antigamente, é confiar desconfiando.
Observação final: muitos criticam a indicação do deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, para a embaixada do Brasil nos Estados Unidos. Criticar é um direito constitucional. Mas por que ninguém criticou os diplomatas brasileiros que passaram por lá, muitos da esquerda radical, e que nada fizeram de útil para o nosso país?
Nota triste. Mais um companheiro de tantos anos na imprensa nos deixou na semana passada. Hélio Amoni chegou bem jovem, labutou com competência e dedicação permanente na área financeira do Estado de Minas, sempre tranquilo, sempre bem-humorado, sempre amigo, e ele só fez amigos a vida toda, até aposentar-se em 2015, como diretor-financeiro e condômino. Eunice, os filhos Maria Regina, Helenice, Cláudia e Hélio Amoni Júnior, oito netos e um bisneto, diretores e colegas do jornal, dele se despediram no Parque da Colina. Um triste adeus para todos nós que com ele convivemos durante mais de 50 anos
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