Jornal Estado de Minas

Universalização das bibliotecas

As bibliotecas são importantes parceiras da sala de aula por funcionar como aliadas na disseminação do conhecimento, principalmente, no processo de aprendizagem escolar. Desde 2010, a Lei 12.244 determina a obrigatoriedade de bibliotecas em todas as instituições de ensino até 2020, situação longe de se concretizar. O próximo ano é a data-limite para as escolas se adequarem à disposição legal que definiu biblioteca escolar como "a coleção de livros, materiais videográficos e documentos registrados em qualquer suporte destinados à consulta, pesquisa, estudo ou leitura".
 
Em primeiro lugar, a proposta reforça a precariedade do cenário real das bibliotecas escolares, destoando dos dados do Grupo de Trabalho instituído pelo MEC/FNDE, apresentando a proposta de resolução instituindo os parâmetros mínimos para estruturação e o funcionamento das bibliotecas escolares. As bibliotecas escolares extrapolam a noção de acervo e representam canais focados em diálogo e construção do conhecimento, adequados ao ambiente de informação.
 
Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que grande parte da população brasileira não conta com um local apropriado para estimular a leitura. Como se não bastasse, o Brasil tem apenas uma biblioteca pública para cada 30 mil habitantes, do total de 7.166 cadastradas pelo Sistema Nacional de Bibliotecas do Ministério da Cultura.
O Brasil precisa construir 64 mil bibliotecas escolares até 2020. Dados divulgados pelo Anuário Brasileiro da Educação Básica 2019 apontam que cerca de 45,7% das escolas públicas de ensino básico contam com bibliotecas ou salas de leituras.
 
Levantamento do Todos pela Educação, em parceria com a Editora Moderna, mostrou que apenas 14,1% das crianças do grupo de nível socioeconômico muito baixo têm nível suficiente de alfabetização em leitura. A situação reforça a importância das bibliotecas nas escolas, já que os livros contribuem para a formação intelectual, principalmente, entre as crianças em processo de alfabetização. Ao analisar os recursos de infraestrutura disponíveis nas escolas, a pesquisa identificou que 48% das escolas de ensino fundamental têm bibliotecas e/ou salas de leitura (só bibliotecas, 27,3%, e só salas de leitura, 14,5%).
Já no ensino médio, esse número pula para 85,7% (só bibliotecas, 53,8%; só salas de leitura, 20,6%; e salas de leitura e bibliotecas, 11,3%). Nas escolas de ensino integral, por sua vez, 53,1% dispõem de bibliotecas e/ou salas de leitura.
 
O Conselho Regional de Biblioteconomia 6ª Região (MG/ES) participou  de uma audiência pública na Câmara dos Deputados sobre o processo de implantação da lei, em dezembro de 2018. A entidade defendeu os direitos de estudantes e profissionais escolares a um equipamento de qualidade, propiciando o acesso à arte, à reflexão e à arte humana registrada em suportes físicos e/ou digitais, portanto, uma biblioteca escolar que verdadeiramente possa contribuir para a formação da geração presente e das futuras.
 
O suposto desinteresse dos brasileiros pela leitura é apresentado no estudo “Retratos da leitura do Pró-Livro”, sendo que 44% da população não têm o hábito de ler e 30% nunca compraram um livro sequer. O acesso gratuito a acervo e serviços de bibliotecas poderia suprir as lacunas sociais e econômicas em relação à educação, formação e cultura. Nenhum país contemporâneo sério chegou à evolução de sua sociedade sem investir em educação, cultura e conhecimento em geral, nem em bibliotecas públicas e escolares, em particular. Esse investimento é uma forma segura e inteligente de melhorar o futuro.
 
Pesquisadores têm demonstrado que a universalização das bibliotecas públicas e escolares é passo fundamental para apoiar a erradicação do analfabetismo e a eliminação do analfabetismo funcional, duas chagas abertas na nação brasileira. A leitura, e mais ainda, o acesso à literatura, com suas infinitas possibilidades de temas e formas, é uma janela incomensurável para o enriquecimento pessoal e social, para a formação permanente e até para buscas de soluções mais concretas no mundo privado e no mundo do trabalho.
A leitura tem sido usada até mesmo como coadjuvante em tratamentos de questões emocionais.
 
A biblioteca escolar costuma ser o primeiro contato de grande parte das crianças brasileiras com o livro. O momento de início da alfabetização define a relação do estudante com a leitura, literatura e com o simples ato de estudar e aprender durante a vida. Ou seja, uma biblioteca escolar aberta é também uma porta para o futuro.
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