A noite começou mais cedo na cidade de São Paulo.
Luzes acesas nas residências, carros com faróis ligados no período da tarde. Uma chuva fina parece aliviar um pouco o ar seco e poluído que encobre a cidade.
Ledo engano.
São os reflexos do descaso ambiental e climático que avançam sobre o nosso cotidiano urbano, encobrindo a cidade com fuligem e molhando as ruas com um líquido contaminado.
Não são consequências de curto prazo, de ideologias ou de políticas protecionistas, mas sim um alerta máximo de desequilíbrio global, fruto das ações antropogênicas nas últimas décadas, conforme já diagnosticado pela Organização das Nações Unidas (ONU).
A política climática e de sustentabilidade tem sido adotada por inúmeros países, com fundamentos políticos e ideológicos completamente distintos, por uma simples razão: são fatores de sobrevivência, de desenvolvimento econômico, de justiça social, de preservação ambiental e de valorização cultural.
São os serviços ecossistêmicos que mantêm a produtividade do agro, inclusive reduzindo os custos para a produção de alimentos.
Especificamente em relação ao Brasil, uma verdadeira potência em biodiversidade, a sustentabilidade pode significar a liderança global absoluta em áreas relacionadas ao agronegócio, biotecnologia, energia, turismo, saúde e meio ambiente.
Nas cidades e aglomerações urbanas, pode reduzir ou mesmo eliminar verdadeiras catástrofes relacionadas às inundações, deslizamentos, avanço da dengue e doenças respiratórias.
Um estudo realizado em Belo Horizonte (2016) indica que em 2030 cerca de 70% dos bairros da cidade apresentarão alta vulnerabilidade às mudanças climáticas, o que significa o incremento de tragédias, perdas de vida e diversos prejuízos para toda a sociedade.
O desenvolvimento nunca esteve tão atrelado à sustentabilidade.
Não importa se a lente é econômica, social ou ambiental, pois a chave para um país com prosperidade passa, necessariamente, pela diretriz da sustentabilidade permeando todos os negócios, atividades, políticas e comportamentos.
Desprezar esta enorme oportunidade e não atender ao chamado urgente significaria queimar o nosso futuro.
Sobre os autores
Sergio Myssior – Arquiteto e Urbanista – Pesquisador do Programa de Pós Graduação em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável da UFMG e Presidente do Conselho Empresarial de Mobilidade e Logística Urbana da Associação Comercial de Minas Gerais (ACMINAS)
Thiago Metzker – Biólogo, Doutor em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre pela UFMG e Presidente do Instituto Bem Ambiental