Mateus Roque da Silva
Professor de história
De todos os modos de produção conhecidos e vivenciados pela sociedade ocidental, o capitalismo, do ponto de vista ambiental, foi o mais cruel e prejudicial para o planeta. A balança desigual entre os homens e a natureza no nosso país remontam, facilmente, ao descobrimento. No século 16, o mesmo da chegada dos colonizadores, a costa brasileira foi ferozmente desmatada em busca do valioso pau-brasil, uma vez que sua excelente madeira e seiva eram bem empregadas em Portugal. No século 18, foi a vez de o solo mineiro enfrentar as profundas perfurações dos mineradores lusitanos à procura de ouro e outros metais preciosos. Vistos do tempo presente, os desastres de Mariana (2015) e Brumadinho (2019) são apenas um resultado de um longo e doloroso processo que vem acometendo nosso estado há séculos.
Todavia, um outro desastre ambiental nos é mais próximo. A queima da maior floresta do planeta, a Amazônia. Essa notícia, evidentemente, foi acolhida por todos com imensa tristeza e desalento. A destruição de uma floresta, ou reserva natural, não se restringe apenas à destruição das árvores. Sua queima afeta, diretamente, todo o ecossistema, sem pensar nas populações próximas às chamas. Entretanto, com a chegada da nuvem de fumaça na capital paulista, há alguns dias, as pessoas começaram a tomar consciência dos desdobramentos advindos das queimadas nas florestas brasileiras, uma vez que aparentavam não compreender a real gravidade dessa sequência de eventos. Em plena tarde, o dia tornou-se noite.
Esse tipo de consequência, resultante de um processo muito mais profundo, não é inédito na história ocidental. Em 26 de outubro de 1890, o jornal A Folha Sabarense publicava o artigo "O nevoeiro em Londres". Nesse texto, os redatores comentavam sobre um acontecimento muito próximo ao vivenciado em São Paulo e chamavam a atenção dos leitores para os resultados do avanço capitalista na capital inglesa do mesmo período: "Pouca gente imagina qual é o valor real e o peso do célebre nevoeiro em Londres. Tão explorado pelos poetas e romancistas e que outra coisa não é senão uma enorme nuvem de fumaça produzida pelas inúmeras chaminés das fábricas, usinas e casas da moderna Babylonia".
Apesar de ambos fatos narrados se distanciarem em mais de um século, o mesmo problema nos acomete, o descaso com o meio ambiente. Segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de agosto de 2018 a julho deste ano, cerca de 6,8 mil quilômetros quadrados vêm sendo desmatados na região da floresta amazônica, o que preocupa diversos segmentos sociais. Nesta perspectiva, o apelo é feito em prol da conscientização e responsabilização das pessoas em detrimento do futuro que plantamos hoje.