Fábio Augusto Jacob
Coronel-aviador da reserva da Força Aérea Brasileira, coordenador e professor da Academia de Ciências Aeronáuticas Positivo (Acap), da Universidade Positivo
A aviação representa um importante elo na estrutura de transportes de qualquer país e de forma especial de um país de grandes dimensões como o Brasil. Por esse motivo, e desde o início do século 20, o desenvolvimento desse modal recebeu especial atenção dos sucessivos governos. Diante da escassa malha rodoviária e ferroviária, o avião foi visto como um agente integrador. Com ele, era possível levar notícias das cidades do litoral, capitais dos estados litorâneos, até o interior – o que antes poderia levar meses.
A rapidez com que o avião conectava as dife- rentes regiões levou a um suporte estatal a essa iniciativa. Empresas aéreas que voavam no litoral foram estimuladas a voar também para o interior do país. Ainda assim, somente as capitais e algumas poucas cidades maiores acabaram recebendo o transporte aéreo de pessoas e cargas. As grandes distâncias e a falta de infraestrutura aeroportuária eram entraves que só foram sendo reduzidos com a aproximação da virada do século 20 para o 21.
Como os demais países latino-americanos, e mesmo carecendo deste transporte, o Brasil tratou de proteger tanto as empresas nacionais que operavam as poucas linhas como o próprio cidadão, que em mãos estrangeiras poderia acabar sendo explorado – financeiramente e mesmo quanto às condições de trabalho. Por essa razão, os países resguardavam o transporte regional interno para as empresas nacionais e colocavam medidas restritivas para a operação de empresas estrangeiras no país.
Essas medidas visavam, também, proteger as próprias empresas de uma eventual competição predatória de outras maiores, estrangeiras.
É interessante observar que esse desenvolvimento da aviação ocorreu de forma semelhante nos diferentes países latino-americanos, guardadas as diferenças de dimensões entre eles. Essa situação os levou, já vivendo os novos tempos do século 21 e sob os ares da globalização e expansão das comunicações, com destaque para a internet, a procurar dinamizar o transporte aéreo, reduzindo as proteções internas aos agentes externos, mas, em compensação, abrindo caminho para a chegada de negócios, turistas e todo tipo de materiais.
Nesse novo cenário, em novembro de 2010, os estados da região do continente, reunidos em uma Comissão Latino-Americana de Aviação Civil (CLAC), prepararam um acordo de céus abertos, no qual se comprometiam a reduzir as restrições para a operação de empresas estrangeiras, no caso os Estados-membros da CLAC, de modo a estimular as ofertas de voos na região. O acordo foi promulgado pelo presidente Bolsonaro em 7 de agosto último, após aprovação pelo Congresso Nacional. Esse ato já coloca o país como um dos que estão na vanguarda regional para o incentivo do transporte aéreo – e que pode, desde já, usufruir dessas novas possibilidades. E de que forma isso pode ser observado? Novas empresas operando no país, mais ofertas de voos, mais cidades servidas, mais negócios, mais turistas... enfim, maior integração, objetivo primeiro.
Essas medidas também serão saudáveis para as empresas nacionais, pois, em contrapartida, o Estado se propõe a interferir menos no mercado e dar mais liberdade para as operações.