Jornal Estado de Minas

O desafio da cobertura universal

Maira Caleffi
Presidente voluntária da Femama (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama) 

Milhares de pessoas se mobilizaram em todo o mundo, ontem, no Dia da Cobertura Universal de Saúde. Essa é uma data para reunir esforços pela implementação de sistemas de saúde que possibilitem a todas as pessoas o acesso sem que lhes incorram comprometimentos financeiros onerosos – uma demanda global encarada como prioridade máxima para o desenvolvimento sustentável pela Organização das Nações Unidas (ONU). Todos os anos, mais de 1 bilhão de pessoas, ao redor do mundo, não podem arcar com o custeio de médicos, remédios ou cuidados essenciais sem se colocar em situação econômica de risco.



Aqui, no Brasil, nossa Constituição assegura o acesso gratuito à saúde como um direito fundamental, o que não quer dizer que não tenhamos grandes dificuldades. O Sistema Único de Saúde (SUS), seus trabalhadores e usuários convivem, cotidianamente, com a falta de recursos, gestão ineficiente e carência de políticas públicas eficazes de médio e longo prazo. No âmbito da oncologia, a situação é ainda mais grave, apesar de constantes esforços de grupos médicos e de profissionais da saúde em vários hospitais que atendem ao câncer no país inteiro.

A gestão do paciente com suspeita ou com o diagnóstico de câncer precisa ser reestruturada dentro de uma perspectiva universal de cobertura. A jornada desse tipo de doença precisa ser repensada, desde a prevenção nos tipos de câncer, como colo uterino, até os cuidados de suporte do paciente que vive com a doença. O câncer é a segunda causa de morte no Brasil, podendo chegar, em 2030, como a primeira causa de óbito. No aguardo da regulamentação da Lei dos 30 dias, sancionada dia 30 de outubro pelo presidente da República em exercício Hamilton Mourão, o câncer tem que ser uma questão também de atenção primária.

Dados do Tribunal de Contas da União (TCU) apontam que a espera por diagnósticos pode chegar a 200 dias – prazo longo o suficiente para a doença se desenvolver, atingir estágios mais avançados e, consequentemente, tratamentos mais agressivos, caros e com menor chance de sucesso. Num momento de importantes discussões sobre escassez de recursos públicos, aumento da parcela mais pobre da população com ainda menor qualidade de vida, o compromisso com o diagnóstico precoce e o tratamento em no máximo 60 dias depende de vontade política e aumento de infraestrutura para coibir o desperdício dos já sobrecarregados serviços de saúde e, o mais trágico, de vidas.



Aumentar o financiamento do SUS, um dos maiores exemplos de sistema de cobertura universal de saúde, é urgente. Precisamos, até 2030, garantir que funcione com todo o seu potencial social, político e econômico. Nossos indicadores de mortalidade são altos em relação ao número de casos novos. A sociedade precisa se mobilizar para que a cobertura em saúde seja cada vez mais universal no Brasil, incluindo toda a cadeia de atenção aos pacientes com diagnóstico de câncer.

Conheça a campanha #SaúdeParaTodos: Mantenham a Promessa em      https://uhc.femama.org.br e participe.