A sociedade deve ficar vigilante para o perigo que representam atos como o perpetrado contra a sede da produtora do canal televisivo de humor Porta dos Fundos, no Rio de Janeiro, que foi atingida por coquetéis molotov no início da semana. O caso tem der ser classificado como atentado terrorista pelas autoridades policiais para que outros semelhantes não voltem a acontecer na capital fluminense ou em outras cidades brasileiras. Ações desse tipo podem contribuir para o acirramento das posições políticas radicais, que em nada contribuem para a preservação da democracia.
Não interessa a ninguém a desestabilização das instituições democráticas e o ataque que ocorreu no Rio deve ser enquadrado na lei antiterror pela polícia. Os órgãos oficiais não podem titubiar na condução das investigações e responsabilização dos que promoveram as explosões. Se a dura legislação de 2016 contra o terrorismo tiver de ser aplicada, que seja em toda a sua plenitude. A lei define como ação terrorista o uso de explosivos por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião com a finalidade de "provocar terror social".
O país não aceita conviver com atitudes que jogam na lata de lixo da história todos os esforços para a defesa e o aprimoramento do processo democrático. Por isso, o mal tem de ser cortado pela raiz antes que se propague. Após as explosões, circulou nas redes sociais um vídeo em que integrantes mascarados de um grupo autodenominado Comando de Insurgência Popular Nacionalista da Grande Família Integralista Brasileira – inspirado no movimento integralista da década de 1930 do século passado – leem um manifesto com imagens do ataque à sede do Porta dos Fundos sendo exibidas.
A polícia tem de ir a fundo nas investigações sobre os três homens filmados lançando os coquetéis molotov e o país pede urgência no esclarecimento total do atentado para exemplar punição dos criminosos. Não se pode relevar o fato de que esse mesmo grupo é acusado de ter feito um ataque na Universidade Federal do Estado do Rio (UniRio), no ano passado, quando queimou bandeiras e faixas antifascistas. A pronta atuação dos entes governamentais é de extrema importância para coibir esse tipo de manifestação política no país.
As autoridades policiais já manifestaram sua preocupação com a natureza do episódio, presumidamente provocado por um filme sobre Jesus Cristo produzido pelo canal de humor. O delegado que conduz as apurações disse que a preocupação da polícia é demonstrar para a sociedade que essa conduta é muito grave e que eventuais repetições desse comportamento serão punidas com rigor. Menos mal porque, na democracia, não se pode tolerar o uso da força para impor ou para se opor a uma ideia. A convivência harmoniosa e o respeito a posições divergentes são o elixir do sistema democrático.