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Os 100 anos de um homem exemplar


postado em 28/01/2020 04:00

Otávio Marques de Azevedo
Engenheiro

Nascido em Pedro Leopoldo, distrito de Matozinhos, pequena cidade do interior mineiro, distante 56 quilômetros da capital, Belo Horizonte, Fábio Mello de Azevedo se orgulhava de ter nascido no mesmo dia da fundação do município de Pedro Leopoldo, em 27/1/1924, portanto, sendo ele quatro anos mais velho do que a cidade de Pedro Leopoldo, terra da sua mãe, Maria Antonieta Mello de Azevedo. Também foi ali a terra de nascimento do grande brasileiro Chico Xavier, vizinho de casa e colega de escola do Paulo, irmão mais velho de Fábio. Sétimo filho do casal Francisco Azevedo e Marieta, como era conhecida sua mãe, a vida em Pedro Leopoldo teve fundamental importância na formação da personalidade expansiva que caracterizou Fábio por toda a vida. Correr solto pelas ruas com os inúmeros primos, pegar passarinhos, nadar na Cachoeira do Urubu, entre outras diversões e alegrias infantis, fez de Fábio uma pessoa aberta e comunicativa. Pedro Leopoldo sempre foi, durante toda sua vida, uma grande referência e ponto de retorno praticamente mensal.

Ainda menino, a família se mudou para Belo Horizonte, e ele, com 7 anos, foi iniciado pelos pais a participar mais direta e precocemente no processo de formação da renda familiar, passando a fazer entrega de leite nas casas de clientes do leite produzido na fazenda do pai, em Peri-Peri, Matozinhos. A vida nunca foi fácil financeiramente para a família de Francisco e Marieta Mello de Azevedo, mas, ainda assim, seus filhos estudaram e Fábio, como, dentista foi se colocando na vida. Fábio tinha como diversão, no Colégio Mineiro, a bola ao cesto, que lhe encantava muito mais do que os estudos. Dotado de especial pontaria com sua mão esquerda, Canhotinha de Ouro, como ficou conhecido, iniciou sua trajetória no basquete no Asa, ainda com 15 anos, e logo depois foi levado para o América pelo seu irmão Celso Mello de Azevedo, que 20 anos depois foi eleito o primeiro prefeito de Belo Horizonte nascido na capital.

Fábio, por sua vez, foi crescendo no basquete da cidade, do estado, do país e internacionalmente, chegando, em 1938, a ser comparado pelo Jornal dos Esportes de São Paulo como o Leonidas Branco. Já no lado sentimental, começou a namorar Lucília, sua futura esposa e companheira de vida. Na década de 1940, chegou à Seleção Brasileira de basquetebol e disputou inúmeros torneios e campeonatos, tendo se tornado, em 1942, campeão sul-americano de lances livres em Mendoza, na Argentina. Nessa década, também foi octacampeão mineiro de basquete pelo América. Grande ídolo do esporte mineiro, Fábio levava com orgulho, na alma, esses tempos inesquecíveis do esporte.

Na vida profissional, Fábio iniciou sua carreira como dentista em 1944, trabalhando no Sesi/MG, alocado na Fábrica Renascença Industrial de Tecidos, onde ficou nessa posição por 10 anos. Em 1946, instalou consultório particular no Centro de BH, para complementar a renda familiar, pois se casara com Lucília em setembro de 1945 e estavam se preparando para o primeiro filho, que nasceu em 10/8/1946. Renato chegou como chegam os anjos, pois no princípio se declaram diferentes dos demais e o desafio do casal é socializar o anjo, pois Renato nasceu com síndrome de Down. Fábio e Lucília entenderam o recado de Deus e tiveram outros oito filhos: Fábio, Ana Maria, Otávio, Beatriz, José Carlos, Bernadette e, para terminar e fechar a fábrica, como Fábio dizia, os gêmeos Pedro e Paulo.

A vida social de Fábio girava em torno das famílias Mello Azevedo, Barbosa Mello e Marques Silveira, tendo sido ele o primeiro a se casar com uma neta de José Cândido da Silveira, nossa mãe Lucília. Aos amigos, devotava tempo especial, seja na Gruta Metrópole, na companhia dos irmãos Cristhiano e José Bento Teixeira de Salles, na Fazenda das Perobas, do seu primo e amigo José Flávio, ou no Clube Campestre, junto aos irmãos, cunhados e dezenas de amigos.

A vida da nossa família foi, em todos aspectos, extraordinária. Muito alegre, contagiada pelo vulcão de alegria que caracterizava a personalidade de Fábio e as atitudes sempre calmas e amorosas da Lucília, sem nunca deixar que a indisciplina prosperasse. Tínhamos liberdade e tínhamos um lar que sempre nos atraía de volta de onde estivéssemos. A casa dos pais, avós e bisavós foi sempre a casa que, com a presença do anjo Renato, todos queriam estar, parentes e amigos também.

Renato e Beatriz partiram antes para preparar a chegada de Fábio, em 17/12/2010, e a de Lucília, em 13/6/2011.

A saudade é muito grande, mas a alegria de ter tido a presença de Fábio na nossa vida é reconfortante. Ontem, cantamos parabéns e marchamos cantando a Marcha do expedicionário, nos lembrando de papai.

Seus filhos.


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