Jornal Estado de Minas

CBG, CBN e os outros canabinoides

Gustavo de Lima Palhares
CEO da Ease Labs

A regulamentação da fabricação e venda dos produtos à base de componentes da Cannabis proposta pela Anvisa, em dezembro do ano passado, tem pautado discussões sobre as propriedades terapêuticas dessas substâncias. O canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC) são os mais conhecidos. Entretanto, a espécie contém mais de 400 componentes.


 
Com o aumento dos estudos sobre a planta, foi descoberto outros dois canabinoides com atuações medicinais, o canabigerol (CBG) e o canabinol (CBN).
 
O canabigerol é o canabinoide a partir do qual a planta sintetiza todos os outros. Apesar disso, ele não causa efeitos psicotrópicos, ou seja, seu uso não altera o comportamento e a consciência.
A atuação acontece através da conexão com receptores do sistema endocanabinoide, que é abundante na região ocular. O uso desse canabinoide reduz a pressão intraocular e vasculariza a área, o que a torna uma poderosa arma no tratamento do glaucoma. Outra utilidade do CBG é a efetividade na diminuição de inflamações e a atuação no sistema nervoso, restaurando o equilíbrio homeostático. Em outras palavras, ele ajuda no controle da estabilidade corporal, necessária para que o organismo realize as funções corretamente.
 
Mas a principal animação com o canabigerol é no combate ao câncer. O estudo da francesca Borrelli – a carcinogênese do cólon é inibida pelo canabigerol, antagonista do TRPM8, canabinoide não psicotrópico derivado da Cannabis–, da Universidade de Nápoles Federico II, mostrou que a substância tem ação anticancerígena capaz de reduzir o crescimento do tumor. A pesquisa conclui que o canabinoide é promissor tanto na prevenção quanto na medicina curativa.


 
Outro canabinoide com futuro próspero no tratamento de doenças é o canabinol. Encontrado em plantas mais velhas, os estudos apontam que o CBN tem propriedade neuroprotetora. Isso significa que ele é capaz de proteger os neurônios contra danos decorrentes de doenças que afetam o sistema nervoso, como é o caso do Alzheimer e do Parkinson.
 
O Departamento de Neurologia da Universidade de Washington conduziu uma investigação sobre a terapia com canabinol em camundongos com esclerose lateral amiotrófica. Administrando CBN por 12 semanas, concluiu-se que o tratamento atrasa, significativamente, o início da doença, e sem promover efeitos colaterais.
 
O canabinol é considerado um poderoso agente antibacteriano. Testado em laboratório contra a Staphylococcus aureus, bactéria resistente aos antibióticos tradicionais, obteve êxito ao combatê-la. O CBN atua, também, como anti-inflamatório, estimulador de apetite e no tratamento de glaucoma.
Por conseguir combater enfermidades para as quais não existem tratamentos e amenizar os sintomas de doenças degenerativas, o CBG e o CBN têm se mostrado indispensáveis na medicina. Entretanto, apesar de as pesquisas e casos clínicos sobre os tratamentos com canabinoides mostrarem resultados favoráveis e já estar disponíveis nos Estados Unidos, ainda temos um longo percurso para que isso aconteça no Brasil.