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Boquirroto, mas fala verdades


postado em 24/02/2020 04:00

Fábio P. Doyle
Da Academia Mineira de Letras
Jornalista

O presidente é, com todo o respeito, boquirroto. Não resiste a um grupo de jornalistas que encontra pelo caminho. Eles o esperam na porta do Alvorada, da sede do governo, nos portões do Jaburu, do Torto, onde reside com sua família. E esperam sabendo que conseguirão bons assuntos, declarações que podem ser inconvenientes, revelações que não deveriam ser feitas, tudo transformado em manchetes nos jornais do dia seguinte, e destaques nos noticiários diurnos e noturnos das TVs. Quem ouve, quem acompanha a cobertura, percebe que Bolsonaro fala sempre o que pensa, mas sem pensar nas consequências. Ele é sincero, diz sempre verdades que podem machucar os atingidos pelas revelações, verdades que podem ser, também, como tem acontecido, interpretadas de forma errada. Como conter a verborragia presidencial? Será muito difícil. Ele é assim, assim fez sua campanha, assim foi eleito, assim está go- vernando. É o seu jeito de ser. Faz parte de sua personalidade, do seu DNA.

Sérgio Moro e Paulo Guedes, todos sabem, são seus dois ministros mais famosos, sempre criticados, atacados e temidos pela oposição. Moro, discreto, aliás, sempre muito discreto, contido, como devem ser os que, como ele, fizeram da magistratura a sua carreira, a sua vida. Mas as entidades de classe, as educacionais, as vinculadas ao Judiciário e a imprensa não o deixam em paz no seu canto. Convidado, comparece, como é de seu dever de homem público, para conferências, debates, entrevistas. Mesmo contido, é obrigado a expor suas teses, suas convicções jurisdicionais e políticas. Nem sempre é bem interpretado. Algumas vezes, como  aconteceu este mês, é       constrangido a ouvir debatedores mal-educados, grosseiros, sem poder dar a resposta merecida. Aliás, o melhor, mesmo, nessas ocasiões, é não  responder, ignorar a baixaria, pois retrucar poderia rebaixá-lo ao nível do agressor desonesto.

Já Paulo Guedes, ministro da Economia, outro gênio falastrão, tem apanhado e sofrido com a interpretação falsa, errada, do que ele diz no meio de suas  dissertações e conferências, que duram sempre mais de uma hora. A imprensa, sensacionalista, antibolsonarista, procura, e encontra, no contexto uma frase que possa ser manipulada para incompatibilizar o todo-poderoso mi- nistro com o presidente e com a opinião pública. Como aquela da viagem das domésticas à Disneylandia, possibilitada na época do dólar com cotação baixa. Na verdade, pelo que ele esclareceu, o comentário que fez não foi dirigido à respeitável classe das empregadas domésticas, mas aos seus patrões. Elas, não é Cida, Maria Aparecida, Neuza, Irene, logicamente não gostaram. O que Guedes teria dito não foi bem isso. Segundo esclareceu, com o dólar bem acessí- vel, os ricos que viajavam com a família para a Disney preferiam comprar a passagem barata para suas prestativas auxiliares ajudarem, durante a excursão, a cuidar de seus filhos. Com o dólar alto, como está agora, disse Guedes, a farra acabou.

De tudo isso, conclui-se que o melhor, para o homem público, como faziam Itamar, Sarney, Michel Temer, Castelo, Geisel, é falar menos, o mínimo, o essencial, e agir positivamente o má- ximo possível.    

Correção 

Azerbaijão, se escreve assim. O país longínquo, lá das proximidades do Mar Cáspio, que já foi invadido e tomado pelas forças comunistas dos tempos tenebrosos do stalinismo soviético, é muito pouco conhecido no mundo ocidental. Alguns, talvez, apenas pelo nome esquisito. Foi com essa grafia, a oficial e correta, que eu o mencionei na semana passada, em artigo publicado no EM de segunda-feira. No entanto, por  fa- lhas de impressão, inevitáveis na imprensa, o texto sobre aquele pequeno país, hoje independente da nefasta URSS, foi publicado com duas incorreções, exatamente na sua denominação. Em lugar de Azerbaijão, mencionada corretamente duas vezes, em dois outros períodos o que saiu foi Azerbaijdão, e  Azerbaidjão. Acontece.

E registro, como devo, uma correção que me foi solicitada pelo meu amigo senador Antonio Anastasia, citado no mesmo tópico do Azerbaijão. Pelo que os jornais publicaram, e que deu motivo ao meu comentário, o respeitado senador mineiro teria ido por conta do Senado, acompa- nhar, como "observador internacional", as eleições parlamentares ali realizadas recentemente. O ilustre professor e correto político mineiro e brasileiro me telefonou para corrigir o que foi publicado. Presidente da Comissão de Relações Exteriores daquela casa legislativa, ele fez a viagem como convidado do governo do Azerbaijão, com tudo pago, passagem aérea, hospedagem, alimentação. Sua missão de "observador" não custou nada aos cofres públicos brasileiros. E foi sozinho, sem nenhum acompanhante ou assessor. Faço o registro e a correção com prazer. E lamento que o noticiário dos jornais a respeito, que me serviram de base, tenha omitido a importante e indispensável informação.


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