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As doenças que assustam

As doenças assustam não porque são simplesmente doenças, mas porque invadem barracos e castelos, casebres e mansões


postado em 18/03/2020 04:00



Walber Gonçalves de Souza
Professor e escritor

Provavelmente, um dos grandes dilemas e desafios que assolam a humanidade é combater a autossuficiência que insiste em fazer morada em nós. Um sentimento silencioso e ao mesmo tempo traiçoeiro, mas que persegue a existência humana, fazendo com que nos percebamos donos de tudo e de todos.

A cultura do poder, em todas as suas manifestações e formas, que envolve a alma humana, estabelece condições para a disseminação e proliferação do sentimento de autossuficiência. Acreditamos ser poderosos demais, acreditamos que conseguimos controlar tudo, que podemos tudo, que somos "espertos" demais.

Mas nem sempre é assim. A vida na sua dinâmica, que a cada dia se torna mais global, se encarrega de mostrar ao ser humano que ele é extremamente frágil, pequeno, e que nem sempre consegue controlar todas as situações que cercam a sua vida.

Vivemos uma pandemia provocado pelo Covid-19, o famoso coronavírus. Estamos tensos, espantados, temerosos. O mundo lentamente está parando, a ordem é ficar em casa, evitar lugares com aglomerações de pessoas. Nossa fragilidade se estampa nos comunicados oficiais e nos noticiários.

Não é a primeira vez, e acredito que não será a última, pois a história nos mostra que, de tempos em tempos, aparecem doenças que assustam a humanidade. Todavia, o que se percebe é que o tempo entre uma pandemia e  outra parece a cada dia se encurtar mais.

A humanidade vivenciou o tempo dos leprosos, da peste bubônica, da gripe espanhola, da gripe suína, do vírus ebola, entre tantas outras, que foram se juntando ao câncer, à diabetes, Alzheimer, enfim, a uma série de doenças que aos poucos estão se tornando cada vez mais presentes entre nós.

E todas elas sinalizam numa direção, por mais que estejamos evoluídos, desenvolvidos tecnológica e cientificamente, a de que ainda somos incapazes de dominar tudo. Quando achamos que estamos controlando o mundo que nos cerca, aparece algo que mostra o contrário.

Isso possibilita uma nova oportunidade que a vida nos dá para repensar nossa existência; para pensar como estamos lidando com o mundo; como estamos vivendo; quais são nossos hábitos e costumes; como estamos tratando as pessoas; como estamos nos reconhecendo.

Pode parecer clichê, mas é estranho demais como somos capazes de criar situações que nos colocam em perigo. Nossas ações, sempre pautadas num progresso que beira ao egoísmo que leva ao olho por olho, dente por dente, acaba por criar cenários de desespero coletivo.

As doenças assustam não porque são simplesmente doenças, mas porque invadem barracos e castelos, casebres e mansões. Elas assustam porque não escolhem grupos, pessoas ou situações. Na verdade, somos todos vulneráveis a elas, sendo suscetíveis aos seus efeitos.

Só espero que a globalização das doenças nos permita globalizar a sabedoria humana também.



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