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Perplexidade nacional


postado em 05/04/2020 04:00


Sacha Calmon
Advogado, coordenador da especialização em direito tributário da Faculdades Milton Campos,
ex-professor titular da UFMG e UFRJ


Estamos todos estupefatos. "Ele", semana passada, saiu às ruas. (Não acreditem nele, falta-lhe juízo.) Isso depois de seu fantástico ministro da Saúde, o Sr. Mandetta, ter recomendado a todos os brasileiros ficar em casa, para evitar contágios. O presidente faz questão de ir à rua, apertou mãos e lançou perdigotos de sua boca insensata na cara dos outros. Isso não é coisa que se faça.

Tudo por egoísmo. Ele teme e até disse que o confinamento vai acabar com o seu governo e sua reeleição tão sonhada.

E dizer que votei nesta pessoa para nos presidir com retidão (isso ele tem) e inteligência criativa, inovadora. Essas qualidades "ELE" não tem, pelo contrário. Age como um sargento de milícias, com brutalidade e destemor, na contramão da ciência, da experiência e do seu próprio governo. Seu paradigma, o Sr. Trump, estendeu até 30 de abril o isolamento nos EUA. Mudou de opinião. Temos o único governante da Terra que ainda considera a COVID-19 uma "gripezinha".

Tudo indica que não lê jornais, nem vê TV, nem ouve especialistas médicos em infectologia. O que, me digam vocês, o faz ser assim? Será que é portador de alguma patologia mental?

A Itália tem 6,4 mil médicos, 50 já morreram. Qual a razão? Saíram para as ruas (corredores) e quartos de hospitais (lojas). Se eu entendo que devo ficar em casa, ainda que isso signifique perda de renda, qual a razão para ele insistir, teimosamente, em sair às ruas, se expor e nos expor aos riscos de transmissão da doença? Parece até que deseja nos matar, pois não é possível insistir em tratar a pneumonia virótica que a COVID-19 causa como um "resfriadinho". Tudo por ambição política, sem grandeza ética. Ao escrever essas linhas, li que na sexta, dia 27 de março, a Itália saltou de 8.165 mortos para 9.134. Bolsonaro é sobrenome italiano. E sabem por que lá é tão grande a mortandade? É porque demoraram a decretar o confinamento. Ao contrário, a China isolou uma província inteira do tamanho do estado de São Paulo e começou a agir. Pequim e Xangai foram poupadas...

Avançando no assunto, a Coreia do Sul e a Alemanha investiram nos testes prévios e no isolamento imediato dos infectados para evitar a transmissão. São as políticas corretas. Incentivar o contágio é caso até de impeachment, pois indica crime de lesa-pátria, conscientemente praticado, a colocar em risco a saúde e a vida dos brasileiros para continuar no poder.

O caso é gravíssimo. O Dr. Farred Zakaria nos diz que lá em cima, nos EUA, ter-se-á o pior surto de COVID-19 entre os países desenvolvidos, devido à inércia inicial de Trump, que acabou de liberar à conta do tesouro US$ 2 trilhões, apavorado com o colapso de Nova York.

Em sendo assim, o seu discípulo Bolsonaro poderia, ao menos, não atrapalhar o trabalho do ministro Mandetta, do Ministério da Saúde, que, em consonância com os demais países, insiste na política de isolamento social para evitar a propagação intensiva da praga virótica.

O presidente e o ministro Paulo Guedes já deveriam ter comprado ou feito aparelhos de respiração e estar trabalhando para amenizar a quebra de empresas e o crescimento do desemprego, que se seguirão no rastro fatídico da pandemia, uma tragédia social anunciada. Agora, na undécima hora, resolveu admitir o óbvio e mandou seu governo tomar providências, de resto insuficientes.

Ao fim e ao cabo, é de se dizer que a pandemia está no início no Brasil. Salva-nos o clima quente. De lado o clima, porém, estamos entrando no período frio, o que pode facilitar o vírus, pois estudos da China e Coreia dizem que temperaturas altas, pra lá de 30 graus centígrados, fazem a virose decair em massa. Os países tropicais, portanto, pelo menos nesta pandemia, estão mais protegidos que os do hemisfério norte, onde estão os EUA, Europa e Ásia continental, além do Japão.

Somos um povo com um presidente insensato. Que o Deus de todas as fés nos proteja e alivie os crentes. Para os descrentes, os ateus, que têm os mesmos direitos dos crentes, e na soma formam o povo brasileiro (parte deles em casas que abrigam até 12 pessoas), devemos seguir as instruções do ministro Mandetta, cujo cargo está em risco. Veremos no futuro o que vai acontecer com ele. É meu candidato em 2022. Não sendo candidato, voto no Moro ou no Braga Neto. Bolsonaro nunca mais. Votei "nele" por falta de opção e um fio de esperança, hoje rompido para sempre. Não se brinca com 210 milhões de pessoas impunemente!


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