Da Academia Mineira de Letras, jornalista
Horizontal, vertical. A divergência, a disputa política indevida, gira em torno das duas posições. Eu pergunto: e a perpendicular? Por que não entra no debate? Seria a mais indicada, por equilibrar a horizontalidade com a verticalização. O meio termo é sempre mais prudente e confiável.
Parece jogo de decifração, mas os que acompanham o noticiário e os bate-bocas entre os que se apresentam como técnicos, como especialistas, da pandemia que assusta o mundo, já entenderam o aparente jogo de palavras.
Governantes, cientistas, ou ditos cujos, médicos especialistas, infectologistas, palpiteiros contumazes, jornalistas leigos e arrogantes em sua ignorância – afinal, ninguém sabe tudo – se digladiam e descabelam na defesa de suas posições, aquelas duas primeiras. Disputam, irracionalmente, sem nenhuma base científica sólida, qual das duas seria a melhor para combater e conter o chamado coronavírus, que a China marxista nos mandou, nós, cidadãos do mundo livre, como presente.
A batizada de horizontal adota o confinamento, a quarentena, de toda a população, como sendo a melhor para impedir a contaminação. "Todos em casa" é o lema. A vertical recomenda o confinamento apenas daqueles considerados integrantes da categoria de risco, idosos (60 anos é idoso?), enfermos, portadores de problemas graves de saúde.
Quanto as demais, os mais jovens, os robustos, os saudáveis, poderiam levar a vida normal. Ou seja, exercendo suas atividades rotineiras, no trabalho, no comércio, na indústria, produzindo riqueza, recolhendo impostos, impedindo, como tem sido alertado pelo presidente Jair Bolsonaro, que aconselha a verticalização, a crise financeira que a paralisação geral certamente provocará.
A discussão, que deveria ser apenas científica, transbordou para a área política. Com os excessos lamentáveis de sempre. Transbordamento que evidenciou a prevalência, no debate, da ideologia chamada de esquerda, ou comunista, dos que sustentam a horizontalidade. Segundo os do outro lado, o que os move, os horizontalistas, não é a defesa da saúde do povo, mas provocar a falência da economia brasileira, como forma de derrubar o governo que assumiu há um ano e quatro meses. É o que tentam fazer desde que perderam as mordomias da era petista.
Por isso, tomo a liberdade que a Constituição me assegura, que audácia, para propor a nova posição, a perpendicular, como solução válida e equilibrada, sem qualquer influência ideológica. Fácil entender: nem horizontal, nem vertical. Acolhendo o que de bom e de útil cada uma oferece. Por exemplo: o isolamento total, radical, seria adotado apenas nas cidades que apresentassem índices oficiais de contaminação acima de determinado nível. Nas de índices menores, ou negativos, a quarentena acompanharia os indicadores, permitindo o funcionamento normal ou parcial do comércio e dos serviços gerais. O que evitaria o caos financeiro, inevitável com o confinamento total, como advertem Bolsonaro e os verticalistas.
E mesmo nas de maior incidência, permitindo que os confinados saudáveis façam suas caminhadas, tomem sol, garantindo a vitamina D, nas praças e parques, que não devem ser fechados por tapumes nem terem seus bancos arrancados, como aconteceu em uma cidade mineira. Mesmo com as restrições sabidas, são milhares os prestadores de serviços que circulam pelas ruas e avenidas sem que nada lhes aconteça. Seriam eles, perguntou Bolsonaro com razão, super-homens?
Vejam como é difícil governar um país, especialmente em momento de pandemia. Pobre Jair Bolsonaro, presidente que enfrenta uma crise que nos atinge, como atinge o mundo todo. E que é, imaginem o disparate, responsabilizado pelo que o coronavírus causa, além de criticado pelos que tentam derrubá-lo, por sua descontração e boquirrotismo, esquecidos que ele foi eleito exatamente por ser o que é, não mudou nada.
Como é difícil para um presidente aguentar as provocações dos que tentam incompatibilizá-lo com seu ministro da Saúde, aquele que gosta de dar entrevistas diárias sobre a pandemia e assuntos outros. E ouvir na TV e ler nos jornais dominados em suas redações pela onda comuno-petista, que Mandetta foi mantido no cargo por pressão do Congresso, do STF, até dos militares? E aguentar o deputado Rodrigo Maia, que pede urgência na quitação do coronavoucher a um governo notoriamente com recursos escassos. Não seria mais correto ele oferecer parte de sua remuneração mensal como deputado e presidente da Câmara, mais de R$ 100 mil mensais, para ajudar?
E mais difícil: como decidir qual tese adotar, qual a melhor para o país, a do confinamento geral, sustentada pelo ministro Mandetta, ou parcial, aconselhada por outro especialista, o médico infectologista Osmar Terra, que enfrentou e venceu, quando secretário da saúde do Rio Grande do Sul, quatro epidemias graves que entram naquele estado pelas fronteiras com o Uruguai, Paraguai e Argentina?