Jornal Estado de Minas

O perigo da EAD na infância

Conteúdo para Assinantes

Continue lendo o conteúdo para assinantes do Estado de Minas Digital no seu computador e smartphone.

Estado de Minas Digital

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Experimente 15 dias grátis

Leonardo Torres
Professor, palestrante e doutorando em comunicação e pós-graduando em psicologia junguiana

Diante da pandemia do coronavírus, não demorou muito para as universidades do Brasil adotarem um sistema 100% de educação a distância (EAD). Parece até que tudo já estava planejado. Já os colégios demoraram um pouco mais para se adaptar, mas sabendo que o nível de inadimplência das mensalidades aumentaria, também migraram para a EAD. Essa preocupação com o ônus da instituição, muitas vezes camuflada pela própria instituição como uma "preocupação com a educação da criança", fez com que os colégios não pensassem em um modelo educacional adequado para crianças e jovens, duplicando os já existentes nas universidades.



Isso é um problema: não se pode equivaler o que se aprende na infância (creche e escola) ao que se aprende na vida adulta (faculdade). A infância é de suma importância para o desenvolvimento de um indivíduo. Nela, o indivíduo aprende muito mais do que em uma faculdade, cujo conhecimento apreendido é mais específico. Nesse momento inicial da vida, o indivíduo será apresentado à complexidade do mundo, da sociedade, da cultura, e, por meio dessas, irá tecer a sua própria complexidade. Cada experiência que um indivíduo sofre nessa época o transforma de alguma forma: das boas aos traumas, dos sons aos gostos, do calor ao frio etc..

Reduzir as experiências da vida de uma criança pode ser crucial para o seu desenvolvimento. Parece que, se ela está segura diante dos aparelhos eletrônicos assistindo a uma aula on-line, ela não sofrerá com as adversidades da vida e isso será bom. Na realidade, assim como diz o ditado, "bons mares não fazem bons marinheiros". Quanto mais experiências boas e ruins, mais um indivíduo estará preparado para a vida. Experiências como ralar o joelho, não ganhar um jogo, brigar com um colega e ter que pedir desculpas podem trazer muito mais aprendizado do que qualquer outro meio de educação. Lembrando que experiências somente boas ou somente ruins unilateralizam o indivíduo e sua complexidade também é reduzida.

Nesta crise pandêmica e em meio ao importante isolamento social, é quase impossível uma instituição promover atividades que demandem um relativo grau de complexidade das crianças, visto que a única solução atual de contato entre indivíduos tem sido o ambiente audiovisual, as redes sociais, a internet etc. Ambiente este que reduz a experiência humana aos sentidos da audição e da visão. Colocar uma criança por horas diante de uma tela que promove conteúdos supérfluos e estimula a audição e a visão é viciar a criança nos aparelhos eletrônicos; é transformá-la em usuário, e não indivíduo. Nessa época tão importante do desenvolvimento infantil, é necessário que a criança fuja das telas e seja apresentada ao que é dor e alegria; ao azedo, amargo e doce; aos cheiros diversos; às texturas; à profundidade tanto do espírito (sujeito) quanto dos objetos.

Os aparelhos eletrônicos poderiam, sim, ser uma ferramenta para os pais estarem em contato com os professores e combinarem direções e atividades para cuidar e ensinar as crianças; e até para as crianças matarem a saudade dos amigos e dos professores. Falta, ainda, pensar e repensar esse sistema educacional infantil com a real preocupação no aprendizado da criança.