Milton Jaworski
Formado em administração de empresas pela Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Em tempos de Uber, toda empresa precisa se reinventar, independentemente do seu porte. Nunca se sabe quando o próximo concorrente pode surgir, com preços mais atrativos ou produtos mais interessantes. Os taxistas, aparentemente seguros em um mercado regulamentado, foram pegos de surpresa, assim como os hotéis com a chegada do Airbnb.
Entre tantos exemplos de gigantes que sofreram com as velozes mudanças da tecnologia, do mercado ou do perfil de consumidores, um dos casos mais emblemáticos é o da Kodak, que começou a ter dificuldades em um momento de prosperidade. A Kodak, uma gigante do mundo da fotografia, foi a primeira empresa a desenvolver a tecnologia digital para câmeras fotográficas, ainda na década de 1970. Ela chegou a responder por 90% das vendas de filmes fotográficos e 85% das vendas de câmeras nos Estados Unidos, mas acabou perdendo o timing da era digital. Foi perdendo mercado, vendo concorrentes como a Sony crescerem, e declarou falência em 2012.
É difícil apontar um único erro para que uma empresa gigante e relevante no mercado chegue à falência, mas a confiança cega de que as máquinas fotográficas com filme se manteriam no topo fez com que a companhia não apostasse na revolução digital. Um grande equívoco na análise sobre o mercado e sobre os consumidores. Esse erro fez com que a Kodak pagasse um preço muito alto.
Aí vem o paradoxo da inovação. Após passar por um processo de recuperação judicial, em 2013, a Kodak começou a apostar, intensamente, em inovação. Cerca de 300 cientistas trabalham na companhia, aproveitando a expertise na indústria ótica e química e tentando encontrar um novo mercado no qual a empresa possa se destacar. Os direitos de mais de 1,1 mil patentes relacionadas a imagens digitais foram vendidos a empresas como Facebook, Apple e Samsung por US$ 527 milhões.
Esse aporte dá fôlego para que a Kodak busque se reinventar. Dona de mais de 7 mil patentes, a companhia revirou seu histórico de arquivos e descobertas para tentar descobrir tecnologias e novidades que, neste momento, possam ser úteis, especialmente na área química. Por exemplo: eles estudam as malhas de fios de prata impressas a laser, que podem ser usadas para desenvolver uma nova tecnologia para telas de smartphone, mais barata e com maior capacidade do que as usadas atualmente.
Há, também, uma nova divisão dentro da empresa, a Kodak Technology Solutions, que visa incubar novos negócios e identificar novas oportunidades. Ou seja, no paradoxo da Kodak, as falhas em apostar na inovação, que culminaram na ruína da empresa, são também a aposta de que o futuro pode ser muito mais próspero do que se esperava.
Entretanto, não é qualquer empresa que tem uma segunda chance de se reinventar em um mercado tão competitivo como o que vivemos hoje. O case da Kodak é um exemplo de como as tomadas de decisões erradas podem interferir no futuro de uma empresa. É preciso estar alerta às mudanças.