A contratação de 313,5 mil profissionais com carteira assinada em setembro, apurada pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foi comemorada pelo governo como o melhor resultado para igual mês em toda a série histórica. “É uma excelente notícia, confirmando a volta da economia. Não só estamos criando empregos por três meses seguidos, mas em ritmo crescente”, comentou o ministro da Economia, Paulo Guedes.
O movimento decorre da flexibilização do isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus, que restringiu a abertura do comércio e de outros segmentos produtivos. Mas o mesmo estudo do Caged revelou que o saldo do mercado de trabalho segue negativo no acumulado do ano. De janeiro a setembro, o país registrou 10,6 milhões de contratações e 11,1 milhões de demissões. No período, foram fechadas 558,5 mil vagas – número superior ao de contratações em setembro.
Na realidade, não há nada a comemorar quando o assunto é o mercado de trabalho. A taxa de desemprego atingiu 14,4% – 13,8 milhões de desempregados – no trimestre encerrado em agosto. Uma alta de 1,6 ponto percentual na comparação com o semestre terminado em maio, que foi de 12,9%. Em três meses, foram 1,1 milhão de brasileiros a mais em busca de uma oportunidade de trabalho. A atual taxa de desocupação registrada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é a maior da série, iniciada em 2012.
Diante desse quadro, é premente que o governo adote medidas concretas para a retomada mais forte da economia. Hoje, a recuperação está muito aquém das reais necessidades do país. Não ameniza as chagas sociais abertas pelo desemprego latente. As reformas tributária e administrativa prometidas pelo Ministério da Economia, que poderiam dar um alento à atividade, por trazer mais confiança ao setor produtivo, não avançam.
A letargia governamental compromete a credibilidade do país, afasta investidores nacionais e estrangeiros. Sem investimentos, não há como alavancar a economia. Sem crescimento econômico, o desemprego continuará a alcançar taxas superlativas e a crise tende a se tornar cada vez mais grave e passar de aguda a crônica.
Impõem-se medidas urgentes para estimular o crescimento econômico, não só com a aprovação das reformas estruturais. Compromissos devem ser cumpridos com a celeridade que a crise exige. E um ambiente propício aos negócios deve ser prioridade, a começar pela boa relação entre os integrantes dos três poderes, que desperdiçam energias e tornam o que é principal em acessório. O país não pode continuar a patinar na recessão.