É preciso crescer economicamente para melhorar a qualidade da educação, ou melhor educar para que haja maior crescimento? Para os especialistas, não há dúvida de que a educação é primordial. Mas diante das iniquidades socioeconômicas, cabe ao poder público fazer com que as duas políticas caminhem juntas. Educar para crescer e promover desenvolvimento sem discriminações, estabelecendo uma simbiose perfeita entre economia e educação.
A pandemia do novo coronavírus realçou os traços das desigualdades do país. Tirou da invisibilidade 68 milhões — mais de 25% da população. Entre eles, 13,5 milhões vivem abaixo da linha da pobreza, um contingente em que os negros (pretos e pardos) somam 72,5%. A maioria deles não tem escolaridade adequada para disputar uma vaga no mercado formal de trabalho. Resultado: o Brasil é o sétimo país com os maiores índices de desigualdade socioeconômica, conforme estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Segundo o IBGE, 10% dos mais ricos detêm 43,1% da massa real de rendimento que, em 2019, totalizou R$ 213,4 bilhões. Para os 10% mais pobres sobrou 0,8% desse valor, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A discrepância é tangível no ambiente escolar e mais profunda no quesito raça/cor. Na educação, a economia brasileira detém o quinto lugar em desigualdade no mundo. Na prova aplicada pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), os estudantes brasileiros com maior poder aquisitivo tiveram um resultado de 100 pontos a mais do que os mais pobres.
De acordo com o Pisa, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que avaliou 79 países em 2018, o Brasil é uma das cinco economias mais desiguais do mundo em relação à educação. A desigualdade socioeconômica do país é a terceira maior do planeta em ciências e leitura; e a quinta, em matemática.
A constatação do Pisa é corroborada pela avaliação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), de 2017, sobre aprendizagem adequada da língua portuguesa. Os índices foram de 41,4% para pretos, 62,5% para pardos e 70% para brancos.
O racismo estrutural, a discriminação por classe social e o baixo investimento nas escolas e na formação de professores somam para o aprofundamento das disparidades. Embora os negros sejam mais de 60% da força de trabalho, as deficiências na formação escolar e profissional comprometem a imagem do país, considerado a nona economia do globo. Mudar esse cenário é desafio que se impõe aos governantes para que o Brasil supere as mazelas socioeconômicas e eleve a qualidade da educação e, assim, possa crescer e se desenvolver com educação de Primeiro Mundo.