A perspectiva de que as duas vacinas contra o novo coronavírus estão muito próximas de serem usadas no país é alvissareira. Superamos a marca dos 200 mil mortos — mais de 10,5% dos óbitos registrados no mundo (1,9 milhão) — e estamos próximos a 8 milhões de infectados. Os números são apavorantes, sobretudo diante do crescimento da demanda por leitos nas unidades de terapia intensiva (UTIs) nas redes pública e privada, na maioria dos municípios, capitais e até no Distrito Federal.
Com o repique da doença e o aumento exponencial de casos – média diária de mais de 80 mil novos infectados –, o sistema está próximo do caos. Ao mesmo tempo em que o governo garante que haverá vacinação, há um desencontro de informações que esfriam as esperanças da maioria dos cidadãos. A cada momento, há uma controvérsia em relação ao número de doses que serão, efetivamente, adquiridas, de quais laboratórios. Há incertezas até mesmo sobre a disponibilidade de agulhas. A politização em torno do tema não cessa, o que é extremamente negativo à imagem do poder público, em todos os âmbitos da Federação.
O Brasil é exemplo mundial pelo know-how que adquiriu com as campanhas de vacinação no passado. Apesar de, nos últimos anos, não ter atingido metas de imunização para as doenças preveníveis, como o sarampo, isso não altera a capacidade dos técnicos do Sistema Único de Saúde (SUS) de deslancharem um processo vitorioso contra a covid-19. Basta que haja medicamentos e insumos em quantidade suficiente, além de logística adequada, para que a ação seja exitosa.
Apesar do cenário caótico, a população deixou de lado as medidas preventivas, como distanciamento social, uso de máscara, higienização constante das mãos, entre outras orientações dos especialistas. No fim do ano, praias ficaram lotadas, bem como bares e restaurantes, festas clandestinas foram registradas em vários pontos do país. Em algumas capitais, os governantes se viram obrigados a impor o fechamento de estabelecimentos comerciais para conter o ritmo de proliferação do vírus. Os danos da franca desobediência às normas de prevenção aparecem agora.
A vacinação é indispensável para que o país saia desse círculo perverso que ceifa vidas e impede a economia de dar passos largos e firmes na recuperação das finanças públicas. Hoje, felizmente, com dois registros emergenciais de vacinas na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), feitos pelo Instituto Butantan e pela Fiocruz, o Brasil está começando a tirar o gesso.
Mas é preciso mais, pois questões sociais e econômicas são prementes e exigem ações concretas para que tenhamos um futuro mais promissor, de mais crescimento, mais empregos e melhor distribuição de renda. Apressar a vacinação em massa é investimento imprescindível para fazer a economia girar e preservar vidas. Não há mais tempo a perder. É preciso agir. E com celeridade.