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Não somos bilíngues, e daí?

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Roberta Maldonado
Mestre em ensino de inglês pela Universidade de Londres

O Brasil é um dos poucos países do mundo cuja maior parte da população só fala uma língua. Já no resto no mundo, bilinguismo é regra. Ou a criança aprende um dialeto com os avós, ou aprende na escola outra língua. Mas, pasme, falar uma só língua é exceção! A maioria das pessoas do mundo é bilingue. Estima-se que 43% da população mundial seja bilíngue enquanto menos de 40% fala uma só língua.





O Brasil também tem um dos números mais baixos do mundo de pessoas que podem se comunicar em inglês. Segundo o British Council, só 5% da população consegue se comunicar e só 1% é fluente. Em um estudo divulgado em 2017 realizado pela empresa especializada em ensino de idiomas EF Education First, o Brasil ficou em 41º colocado no ranking de proficiência em inglês. Foram 80 países analisados, e ficamos abaixo do Equador, Chile, Peru, México, Turquia, Indonésia, e Vietnã, dentre muitos outros.

O que estamos perdendo com isso? Indiferente à idade e circunstância, qualquer pessoa pode se tornar proficiente em uma segunda língua, independentemente de apresentar ou não um sotaque. Bilíngue é quem se vira na segunda língua nas situações nas quais precisa se virar. Uma pessoa não precisa ser capaz de ler e escrever na segunda língua para ser considerada bilíngue, por exemplo.

E quais as vantagens de ser bilíngue? A partir da hora que ela tem duas línguas à disposição, tanto para pensar, quanto para falar, a pessoa bilíngue precisa fazer escolhas constantes: usar esta estrutura ou aquela naquela outra língua? E é essa “musculação” constante que faz o cérebro ficar mais apto. Mas isso é comprovado cientificamente? Pesquisadores encontraram diferenças de peso, aspecto e de funcionamento entre cérebros de monolíngues e cérebros de bilíngues em repetidos experimentos e já são dezenas de artigos científicos reiterando essa diferença.





De acordo com esses estudos, tudo indica que pessoas que falam mais de uma língua desenvolvem melhor as suas habilidades multitarefa, têm melhor memória, tomam decisões mais rapidamente e têm uma capacidade de observação mais aguçada. E, como se não bastasse, de acordo com estudo de 2013, quem fala duas línguas tem um cérebro saudável por mais tempo. Esse estudo foi realizado pelo doutor James Mortimer, da Universidade do Sul da Florida, nos Estados Unidos, e concluiu que falar uma segunda língua aumenta em até quatro anos e meio o tempo de cérebro sem demência, incluindo Alzheimer.

Para adultos que só falam uma língua, a idade média para os primeiros sinais de demência começarem a se manifestar é 71. Entre adultos que falam duas ou mais línguas, os sintomas só começam, em média, aos 75,5. A pesquisa também considerou fatores como escolaridade, nível de renda, sexo e saúde física, mas esses aspectos não alteraram os resultados. O determinante aí foi a segunda língua. E não importa em que idade a pessoa tenha aprendido a segunda língua.

Uma diferença significativa na idade de início foi encontrada na incidência da doença de Alzheimer, bem como demência senil e demência causada por acidente vascular, e também foi observada em pacientes analfabetos. Não houve benefício adicional em falar mais de dois idiomas. O efeito bilíngue na idade de início da demência foi demonstrado independentemente de outros fatores. Esse é o maior estudo até o momento documentando o início tardio da demência em pacientes bilíngues e o primeiro a mostrá-lo separadamente em diferentes subtipos de demência. É o primeiro estudo que relata uma vantagem bilíngue entre os analfabetos, sugerindo que, mesmo sem escrita e leitura, a segunda língua afeta positivamente o cérebro.




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