Jornal Estado de Minas

O que esperar do Brasil




Ronaldo Scucato
Presidente do Sistema Ocemg

2020 foi um ano atípico. Todos fomos surpreendidos pela declaração da pandemia de coronavírus em todo o mundo. Atordoados e sem saber ao certo o que de fato essa calamidade pública traria de impacto à sociedade, aos negócios e ao país, seguimos, nós cooperativistas, firmes, unidos, empunhando a bandeira da cooperação como maneira de superar as dificuldades. De fato, assim aconteceu. Fomos resilientes e nos adaptamos. O cooperativismo foi destaque no ano em que a pandemia tomou conta dos noticiários, da rotina e da vida de milhares e milhares de pessoas. Como?





Levando alimentos e todo tipo de produtos Brasil afora, de maneira organizada e eficiente, por meio de nossas cooperativas de transporte, mantendo a sociedade e os mercados abastecidos. Para isso, destacamos que as cooperativas agropecuárias e seus produtores não deixaram de produzir, pelo contrário, ampliaram sua capacidade de atendimento e fizeram de 2020 um ano recorde em termos de safra. Também não podemos deixar de mencionar os heroicos profissionais do segmento cooperativo de saúde, que, incansavelmente, atuaram de maneira a tranquilizar a população e a continuar seu trabalho de cuidado com a vida, com ênfase em uma gestão profissionalizada e planejada para atendimento dos muitos pacientes afetados pela COVID-19.

Não por acaso, o cooperativismo brasileiro na área de saúde é referência mundial, abrigando mais de 200 mil cooperados e em torno de 110 mil empregados. Da mesma forma, chamamos a atenção para o trabalho realizado pelas cooperativas de crédito, que disponibilizaram linhas especiais para seus cooperados e fizeram toda a diferença para que os micro e pequenos empresários pudessem suportar esse período difícil do mercado. Juntas, nossas cooperativas concederam crédito com muito mais agilidade, superando o atendimento dos conglomerados financeiros tradicionais. Palmas ao cooperativismo na linha de frente, na batalha contra os efeitos da pandemia em nosso país.
 
 
 
 
Triste, contudo, é constatar que apesar dos esforços e da atuação cuidadosa, planejada, organizada e colaborativa não apenas das cooperativas, mas também da própria sociedade civil, a situação ainda não melhorou em relação ao controle da pandemia. Infelizmente, tornamo-nos o epicentro pandêmico mundial e vivemos a pior fase em todo esse contexto do coronavírus. Estamos batendo recordes de mortes diárias e assistindo a uma crise infinita no governo, na economia e no coração dos brasileiros. Onde erramos? O que fizemos de diferente de outros países que vivem hoje uma situação mais amena e com mais pessoas já imunizadas? O que poderia ter sido feito pela nossa sociedade em termos de planejamento, acordos em prol de vacinas e insumos para produção de imunizantes? Será que os direcionamentos corretos para impactar a população no sentido de colaborar unanimemente em relação às medidas de proteção sanitárias foram feitos, para que não chegássemos ao exasperante número de mais de 3 mil mortes por dia?

A pergunta que fica é: onde está a liderança de nosso país na condução dessa crise sem precedentes?. Será que ficaremos à deriva até que sejamos resgatados por apoiadores externos ou será que acordaremos em tempo de tomar as rédeas da situação?

Quando teremos um Ministério da Saúde atuante e a maior autoridade constituída deste país real e seriamente engajada na solução desse grave processo, que há muito deixou de ser apenas sanitário, tornando-se também econômico, social, político e tudo mais que possa ser imaginado e acrescentado?

Inaceitáveis são as atitudes abjetas, desprovidas de compaixão pela dor de nossos semelhantes enlutados pelas perdas de seus entes queridos. São vidas ceifadas, empreendimentos fechados, clima de desolação geral, aliados ao anseio de uma vigorosa união nacional para o enfrentamento da pandemia, através da cooperação e solidariedade.

E que se cuidem os maus dirigentes. É deveras aplicável no momento a antológica frase do cardeal De Gondi, proferida em Retz, na França, há quase 300 anos: “Quando os que mandam perdem a vergonha, os que obedecem perdem o respeito”.

Decência já!






audima